quarta-feira, 2 de setembro de 2020

A FELICIDADE, SEGUNDO EPITETO.

"A felicidade é um verbo. É o desempenho contínuo, dinâmico e permanente de atos de valor. Nossa vida é construída a cada momento, e tem utilidade para nós e para as pessoas que tocamos". (EPITETO, apud Flávio Arriano). 

 Claro que gramaticalmente "felicidade" não é vervo, é um substantivo. Mas para Epiteto, felicidade é o agir com humanidade; é uma realização passo a passo, momento a momento. É uma ação de ser e fazer na relação com as outras pessoas. 

Epiteto, embora tenha vivido grande parte de sua existência em Roma, era um filósofo grego da escola estoica fundada por Zenão de Cítio. E como tal, ele se conduzia pela máxima grega de que "viver é roubar momentos do tempo para a eternidade."

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Maschinengewehr 42 - a Serra de Hitler.

Mauser MG 42, ou simplesmente MG 42, ficou conhecida como a "Serra de Hitler". Esse apelido se deve ao fato de uma rajada dessa metralhadora alemã da Segunda Guerra Mundial causar no corpo humano o mesmo efeito de uma serra - partia-o em dois.

Em agosto de 2019 eu visitei um bunker de Hitler na cidade dinamarquesa de Silkeborg. Lá eu pude segurar e manusear uma dessas, inclusive fazer foto vestido com um uniforme do tempo da guerra. O bunker se mantém totalmente preservado, com muitas armas, granadas, rádio, mapas, móveis e sistema de ventilação. Todos muito bem cuidados.

Silkeborg fica a aproximadamente 50 quilômetros de distância da margem do Mar Báltico, a leste; e a 100 quilômetros do mar do Norte (Canal da Mancha), a oeste. Ou seja, uma posição estratégica para o exército invasor. Existem outros bunkers na região, mas o que eu visitei é o único que ainda mantém todas as instalações do mesmo jeito da época da guerra.  Até mesmo recepcionistas vestidos a caráter - com roupas e equipamentos originais do período - ficam a postos para receber os turistas. 

Aliás, o litoral da península dinamarquesa é povoado de bunkers, a maioria com suaas estruturas intactas até hoje. Em Ringkobing (cidade situada no litoral do Canal da Mancha - de frente para a Inglaterra) eu almocei sentado na mureta de um deles totalmente preservado. 

Fico devendo as fotos que fiz dessa visita, pois o celular que levei na viagem simplesmente parou de funcionar com todas as imagens dentro. 

terça-feira, 14 de julho de 2020

14 DE JULHO - 241 ANOS DA QUEDA DA BASTILHA.

Fortaleza da Bastilha (Fonte: Wiki)
Em setembro de 1991 eu visitei o que restou da Bastilha, no centro de Paris - uma linha sinuosa traçada no solo e poucas pedras, supostamente remanescentes daquela famosa e brutal prisão, dispostas nos canteiros centrais de algumas ruas adjacentes. Não vi concretamente muita coisa, mas a sensação de estar pisando o solo onde se deu o evento histórico que reposicionou os papéis do Estado, do governo e do povo na construção da sociedade ocidental contemporânea foi emocionante.


Marquês de Launay (Fonte: Wiki)
O povo, movido por um boato de que o exército iria massacrar a população de Paris, se dirigiu à Bastilha em busca de pólvora e armas para se defender. Antes, porém, já havia tomado de assalto todas as armas do Palácio dos Inválidos (atualmente um misto de museu e tumba de famosos, onde se encontra um pomposo ataúde com os restos mortais de Napoleão Bonaparte, que visitei na mesma época). O Marquês de Launay (Bernard-René Jourdan de Launay), governador da fortaleza da Bastilha, tentou bloquear a marcha popular, mas, com seus poucos homens, não conseguiu - foi aprisionado pelos revoltosos e decapitado. A cabeça foi espetada na ponta de uma lança e conduzida pelas de Paris. Depois o povo destruiu e incendiou a prisão, deixando-a por terra. Era 14 de julho de 1789, o dia que mudou radicalmente o mundo ocidental. Não foi necessariamente aí que teve início a agitação que resultou na Revolução Francesa - a crise econômica já vinha agitando camadas de um povo faminto -, mas a Queda da Bastilha anunciou ao mundo e à França que algo novo estava sendo gestado. Daí ser apontada por todos como o início da Revolução.








quinta-feira, 9 de julho de 2020

FRASE DO DIA

"Com o tempo, uma imprensa cínica, mercenária, demagógica e corrupta formará um público tão vil como ela mesma."

Joseph Pulitzer, jornalista húngaro (séculos XIX e XX) radicado nos Estados Unidos.

quarta-feira, 24 de junho de 2020

A ÉTICA DO POLITICAMENTE CORRETO

A judicialização da vida, do comportamento em sociedade.

Segundo Pondé, a discussão do politicamente correto tem raízes num debate da esquerda pós maio de 1968. Sustentada em teorias como a filosofia pragmática americana, que entende que ao você alterar a linguagem, você altera gestos e crenças.

"A violência da linguagem pode matar, mas a "língua de madeira artificial, que parece dizer que o uso de certas palavras impedem o preconceito, é um exagero. - Temos que jogar fora a água suja, preservando a criança do Banho" (Leandro Karnal).

"O politicamente correto, como norma de coesão social, repete o conhecimento básico de que a substância essencial da moral pública é a hipocrisia. E o politicamente correto é uma forma de hipocrisia. Na prática, o politicamente correto é uma tentativa de destruir carreiras, cecear textos, não deixar você pensar nas coisas com liberdade". O politicamente correto é uma forma de hipocrisia mais sofisticada, filosoficamente fundamentada. Achar que a alteração da linguagem possa alterar corações e mentes, que cecear a linguagem e transformar a linguagem leve à transformação do pensamento. Nesse contexto, o politicamente até pode gerar mais violência." (Luís Felipe Pondé).

"Há uma positividade na discussão sobre o politicamente correto. Estávamos num polo degenerado do uso da linguagem como forma de dano a outras pessoas. Mas se há um exagero no uso da palavra como arma de destruição, também há exagero na cobrança no uso do politicamente correto. Isso tem que ser discutido" (Mário Sérgio Cortella).




segunda-feira, 8 de junho de 2020

HISTÓRIAS CONTADAS E VIVIDAS

As Casas-Grandes dos engenhos Boa-Fé, Pinturas de Cima e Porções (concretamente nunca houve uma casa grande nesse último - na sua história, Porções pertenceu a um dos grupos políticos dos outros dois engenhos) foram os centros do Poder em Pilões em quase todo o Século XIX e primeira metade do Século XX. Quando não eram os senhores do engenho Boa-Fé que davam as cartas no povoado de Pilões, eram os do engenho Pinturas de Cima. Quem efetivamente mandava dependia muito de qual grupo ocupava a cadeira de Governador do Estado (Presidente, até 1930). A influência desses engenhos só acabou em 1988, com a eleição de um candidato sem ligação com os senhores de qualquer deles.

Com a emancipação de Pilões, em 1953 (a batalha pela emancipação foi um dos poucos momentos que uniu os dois grupos políticos) a luta pelo poder local se acirrou. No ano da emancipação, quem mandava no Estado era um Governador ligado à família de Boa-Fé, motivo pelo qual, por influência de Braz Baracuhy, o primeiro prefeito (nomeado) ter sido o senhor Amando Xavier Pereira da Cunha. Na segunda metade de 1955, com o fim do período de dois anos do Prefeito Amando Cunha se aproximando, a cidade assistiu ao primeiro embate político dos dois grupos pelo controle da prefeitura. O grupo de Boa-Fé lançou a candidatura do farmacêutico Hermes do Nascimento Lira, tido por muitos como amigo dos pobres. Já o grupo de Pinturas de Cima/Porções apresentou o senhor José Lira Lins - também muito popular - como candidato. Foi uma disputa tensa e aguerrida (meus pais me contavam detalhes desses tempos, o ex-Prefeito José Sales da Silva corroborou todos, e a professora aposentada Severina Acelino de Souza - embora muito jovem na época - é guardiã de boas memórias da campanha, inclusive é capaz de cantarolar as músicas usadas por cada um dos candidatos). 

Ganhou Hermes Lira, se tornando o primeiro prefeito eleito de Pilões e o segundo a governar a cidade após sua emancipação. Governou de 1956 a 1959.

ANOS 60 - SÉCULO XX

Os anos conturbados vividos por Pilões na década de 50 forjaram uma sociedade politicamente ativa, mas dividida ao meio entre duas facções que já se digladiavam fazia décadas. Lideranças piloneses ligadas a partidos nacionais como UDN e PSD estavam sempre em lados opostos quando o assunto era o poder político. Foi assim durante todos os 56 anos em que Pilões figurou como um simples distrito da cidade de Serraria (1897 a 1953), situação que inclusive, durante todo o período de submissão, jamais foi totalmente digerida pelas famílias destas bandas, vez que o povoado sede era econômica e politicamente mais modesto do que o distrito de Pilões.

POLÍTICA:

Hermes do Nascimento Lira era o grande líder da UDN local, que tinha na pessoa do Desembargador Braz Baracuhy seu grande interlocutor junto ao Governo do Estado. Durante o tempo em que mandava no Governo Estadual um amigo de Braz, governava Pilões um seu aliado. Foi assim com o Senhor Amando, nomeado primeiro Prefeito em 1953 para governar até 1955; e com Hermes Lira, eleito mandatário maior do município em 1955 - após uma batalha de titãs contra o senhor José Lira Lins do PSD -, para governar até 1959.

A grande inversão política aconteceu em 1959, ano em que o PSD chegou ao governo de Pilões com a ajuda e proteção do governo estadual ligado a essa agremiação política. Foi eleito o Senhor José Lira Lins, proprietário do grande engenho Poções e genro do dono do engenho Pinturas de Cima. Zé Lins - como era popularmente conhecido - era uma figura carismática, de extraordinária sensibilidade política e grande prestígio junto às camadas mais pobres da população. Era, o que podemos chamar hoje, um populista nato.

Conta o ex-prefeito José Sales da Silva - na época auxiliar farmacêutico do então Prefeito Hermes Lira -, que certo dia, no calor da campanha, seu Hermes ficou sabendo de que José Lins estava a caminho da cidade em sua caminhonete amarela carregada de capangas. O Prefeito mandou chamar o chefe da polícia até seu estabelecimento farmacêutico, situado no largo da Praça João Pessoa, onde hoje funciona a lanchonete do Nino, entregando-lhe várias caixas de balas para que, juntamente com seus homens, que inclusive, o acompanhavam naquele momento, garantissem a ordem e a segurança da comunidade. O senhor José Lins chegou à cidade, transitou por algumas ruas do centro, fez a manobra na altura da Avenida Filgueira de Menezes - na época, duas filas de casas de palha e taipa, com muitos terrenos vazios - e, em seguida, tomou o destino de sua propriedade sem provocar nenhum incidente mais grave. José Lins só queria mexer com os nervos dos adversários e exibir sua força política e sua possibilidade de vitória iminente, o que acabou por acontecer naquele ano: José Lira Lins se tornou o terceiro Prefeito de Pilões, governando de 1960 a 1963.

Na administração, José Lins deu ênfase ao esporte. Notadamente ao futebol, que era a sua grande paixão depois das mulheres. Foi durante o governo dele que o município passou a construir e consolidar a fama de grande celeiro de bons jogadores que perdura até os dias de hoje. O estádio de futebol do município leva seu nome, tamanha sua importância para esse esporte no município e na região do brejo.

Um fato triste marcou o governo de José Lins - a morte do seu maior rival na política. O senhor Hermes Lira morreu em 1961, após sofrer um enfarto dentro do seu estabelecimento farmacêutico. Mais uma vez o senhor José Sales da Silva - funcionário de Hermes Lira à época - joga uma luz sobre este traumático acontecimento. Conta o ex-prefeito, que se encontrava no interior da farmácia na companhia do senhor Hermes, quando esse passou mal e deitou-se em uma rede mantida permanentemente armada em um dos cômodos do empreendimento. Deitou-se e pediu que lhe levasse uma cibalena, pois não estava se sentido bem. Zé Sales atendeu de pronto ao patrão e, em seguida, foi chamar a senhora Ana Augusta, esposa do enfermo, que se encontrava em sua residência. Exatamente a casa onde hoje reside o senhor Chico Barbeiro.

- Ah, Zé! ... Hermes sempre tem esse tipo de coisa. Logo ele fica bom, você vai ver! Disse Dona Ana Augusta, dando pouca importância ao fato. De tal forma que, só passados alguns minutos, foi ter com o marido, encontrando-o deitado à rede. O velho político a recebeu com uma pequena frase balbuciada tenuemente e com ligeira dificuldade: - Não se aflija! Disse isso, queixou-se de dores aos que estavam por perto, e morreu minutos depois.

A morte de Hermes Lira trouxe uma certa facilidade política ao então Prefeito Zé Lins, que concluiu seu mandato com pouca oposição. O senhor Amando Cunha, herdeiro do espólio político do grande líder e farmacêutico, não era detentor do mesmo carisma do falecido, e por isso mesmo não trazia maiores dificuldades ao chefe do PSD, que tratou logo em eleger como sucessor o senhor José Lira Lins Sobrinho, filho do usineiro Solon Lira Lins. Como o próprio nome do futuro prefeito sugere, ele era sobrinho do velho líder e prefeito Zé Lins.

Zezinho Sobrinho governou por cinco anos, de 1964 a 1968. Durante o primeiro ano de seu governo, Pilões foi arrasada por uma grande enchente do rio Araçagi-Mirim. As águas desceram o curimataú carregando tudo o que encontravam pela frente. A cheia de 6 de julho de 64 danificou seriamente os engenhos Cajazeira, Santo Antônio (ambos em Serraria), Poções, Boa Fé, Várzea e Engenho Pasta. Esse último ficou por terra. Até hoje são encontradas engrenagens enormes entaladas entre as rochas do leito do Araçagi-Mirim, na altura da cachoeira do Poço Escuro.

As ruas mais baixas da cidade ficaram debaixo d'água. A Norberto Baracuhy não se via a partir da casa do senhor Amando Cunha; A Cônego Teodomiro, a partir da loja de tecidos do senhor Abdias, era só água; A Benjamim Sobrinho (antiga rua da Várzea) - que na época resumia-se a poucas casas, especialmente o setor que hoje se chama Rua Hugo Cunha -, foi a que mais sofreu a força da enchente; a Avenida Filgueira de Menezes ficou totalmente alagada e com várias casas destruídas. Casas e mais casas por todo sítio urbano vieram ao chão. Pessoas se desesperavam com as perdas materiais. Outras se arriscavam naquelas águas turvas, tentando salvar pessoas, objetos e animais. Uma figura que ganhou notoriedade pela grande coragem e capacidade de nado foi o marceneiro "Mestre Benedito". - Ele nada feito um peixe! diziam muitos que o observavam salvando vidas e objetos.

Também, no governo de Zezinho Sobrinho, foi alargada e pavimentada a rua Benjamim Sobrinho (o corte da barreia que passa por trás da Escola Braz Baracuhy e ladeia as casas adjacentes, foi realizado na administração do Prefeito Zezinho Sobrinho); instalados postes de ferro com placas luminosas indicadoras de ruas nas principais esquinas da cidade. Enfim, fez uma administração moderna para os padrões da época. Foi também no governo de Zé Sobrinho que se deu a reabertura do antigo Colégio Comercial 15 de novembro, só que agora com o nomeado de Antonieta Corrêa de Menezes - nome da avó materna do Prefeito. Antes os estudantes de Pilões eram obrigados a se dirigir até Serraria caso desejassem ampliar seus conhecimentos. O Antonieta Correia de Menezes não era exatamente uma escola pública municipal. Os pais dos alunos contribuíam com parte das despesas, mas a maior parcela cabia à Prefeitura. (Essa escola foi estadualizada na gestão do ex-Prefeito Hermes Augusto de Castro, já nos anos 1990).

Outro fato que merece registro no período do Prefeito 'Zezinho' foi a pacificação política costurada por Zé Lins e o novo líder da UDN, Amando Cunha. Os dois caciques, reunidos em casa desse último, resolveram não partir para uma disputa aberta. Asseveraram que era mais inteligente e econômico estabelecer um rodízio no poder entre os dois grupos. Uma espécie da política do Café com Leite, que dominou a cena nacional nas primeiras décadas da República. Poderíamos chamar, no nosso caso de, de política do Açúcar com Rapadura, uma vez que de um lado encontravam-se os senhores de engenhos, ligados à produção da rapadura; do outro lado, os partidários do dono da Usina Santa Maria, grande produtor de açúcar. Esse acordo só foi possível após a morte do grande líder Hermes Lira. O velho farmacêutico jamais sentaria à mesa política com Zé Lins - assegura Zé Sales.

Dentro desse acordão foram eleitos Amando Cunha (1969 até 1972), para um segundo mandato; Doutor Pedro Bonifácio de Araújo (1973 a 1976), jovem agrônomo proveniente de Cacimba de Dentro, genro do senhor Zé Lins. O vice de Amando Cunha era o jovem Luís Serafim Soares, representante do PSD de Zé Lins na chapa. No acordo ficou estabelecido que o senhor Amando renunciaria após cumprir os dois primeiros anos do mandato, para que o seu vice assumisse. Como o Governador do Estado à época era muito amigo do Desembargador Braz Baracuhy - do grupo de Amamdo Cunha -, foi oferecido um emprego de Fiscal de Renda do Estado ao senhor Luís Serafim que de pronto aceitou, renunciando ao cargo de vice. O senhor Amando Cunha cumpriu integralmente o seu mandato, transferindo a gestão para o sucessor eleito em 1972 como candidato único (conforme o acordo de 1968), Dr. Pedro Bonifácio de Araújo.

ECONOMIA:
A década de 60 foi muito rica de acontecimentos políticos em Pilões. Foi também a década que consolidou a monocultura da cana-de-açúcar e presenciou a convivência conflituosa entre os velhos engenhos e a grande e moderna indústria do açúcar representada pela Usina Santa Maria - essa última estava num processo de extermínio de engenhos. A voracidade de suas moendas requeria mais e mais terras para plantio de matéria-prima. Muitos engenhos sucumbiram ainda naquela década. Os que resistiram, o fizeram por pouco tempo: a década que se seguiu cuidou dos seus destinos. Invariavelmente idênticos aos destinos dos seus irmãos de fogo morto.

Nesse movimento pacífico, porém economicamente truculento, a Santa Maria abocanhou vários engenhos tradicionais do município, dentre eles o fértil e avarzeado engenho Mercês. O proprietário, conhecido por Dão das Mercês, era uma figura baixa e atarracada. Era amputado de um dos membros inferiores por causa da diabete, e por isso mesmo, usava uma prótese de madeira que lhe emprestava uma silhueta ainda mais sinistra. Tinha esposa e uma filha, ambas ligeiramente descontroladas dos nervos. A filha era casada com um jovem ambicioso a que o velho Dão entregou o engenho Gogó, de sua propriedade. A ambição do genro não permitiu que ficasse satisfeito com apenas uma propriedade. Vendo a situação física do sogro, por um lado, e a loucura crônica da sogra, por outro, achou que seria fácil abocanhar a bela e produtiva Mercês. Para não perder a propriedade, seu Dão contratou dois homens e os incumbiu de matar o próprio genro. O fato foi consumado em uma curva da estrada de Areia, em 12 de outubro de 1963. O assassinato do jovem rapaz chamou a atenção das autoridades que, sem demora, identificaram o velho Dão como mandante do crime. Pressionado e temendo a prisão, o velho fazendeiro buscou refúgio em casa do Major Cunha Lima, da cidade de Areia (famoso por dar guarida a criminosos dos mais diversos matizes). De lá, foi levado até a cidade de Arara escondido dentro de uma carroça carregada de capim e cana-de-açúcar. Vendeu o engenho Mercês ao usineiro Solon Lins e, com o dinheiro do negócio, partiu para o Estado do Maranhão, onde faleceu. Nunca foi preso. (Essa narrativa eu ouvi do senhor Henrique, administrador do engenho no período da Usina Santa Maria e atual morador da Casa Grande).
A economia do município girava em torno da monocultura da cana-de-açúcar, matéria prima para a produção da rapadura, do açúcar e da cachaça. Pequenos agricultores produziam frutas e outros tipos de culturas. Mas eram produções pontuais, com pouca ou quase nenhuma influência significativa na economia. Fora da cana-de-açúcar, o produto que apresentava alguma importância econômica era o sisal. O sisal era cultivado em todos os engenhos de rapadura como forma de manter opção de ocupação para a massa trabalhadora durante a entressafra da cana-de-açúcar. Toda a fibra de sisal produzida no município era repassada para dois compradores locais: José Alves, do engenho Santa Cruz; e Otacílio Pimentel, que mantinha residência e depósito em uma velha casa que ocupava o terreno onde hoje se situa a casa que dá abrigo à Secretaria de Ação Social do Município (antiga residência do ex-Prefeito Alberd Cunha). O comércio de Pilões era muito ativo. O Município contava com três lojas de tecido, farmácia, bares e várias bodegas onde a população se abastecia. A feira livre existia, mas era insignificante. Funcionava no largo da Praça João Pessoa. Pilões não dispunha de posto de gasolina, nem de banco. Contava apenas com uma agência dos Correios e o escritório da Coletoria de Renda Estadual que funcionava na casa situada entre o que é hoje a residência de Dona Lú e o PSF da Praça João Pessoa.

CULTURA e EDUCAÇÃO:
A cultura seguiu o exemplo da década passada: Festa do Natal, em Pinturas de Cima; festa de fim de ano, na praça João Pessoa; bailes típicos, no clube que ficava onde hoje fica o prédio da Telemar; Coco de roda entoado por Palmeira, Cassimiro e Zé Genú; desfiles de 7 de setembro; São João, com fogueiras, comidas típicas e muitos fogos de artifício fabricados pelo velho fogueteiro José Muniz Júnior.

A festa de final de ano, erroneamente chamada de festa do padroeiro - na realidade o padroeiro de Pilões é o Sagrado Coração de Jesus, que se comemora no meio do ano -, atraia um grande número de pessoas da cidade e da zona rural. A Prefeitura instalava um pavilhão de madeira e palha de palmeira, onde uma banda tocada durante duas ou três noites seguidas. Ao redor do pavilhão, ocupando o restante da Praça João Pessoa, se instalava o parque de diversões. Roda gigante, balanços, canoas, carrocel com seus cavalos saltitantes, e muitos outros brinquedos compunham um cenário de sonhos e imaginações. Passeando por entre o pavilhão e os brinquedos, estavam os jovens com suas bengalas enfeitadas com fitas coloridas em forma de espirais habilmente imbricadas, emprestando um falso movimento de beleza singular. Raro era o jovem que não portava uma bengala na festa de final de ano. "Passear" na Roda Gigante era o sonho de todo jovem. Parar então, no lugar mais alto ponto da mesma, era o máximo para aquele jovem dos anos 60, principalmente quando ao lado estava a garota dos sonhos. Olhar para ela demandava muito esforço e coragem. Na maioria das vezes curtia-se apenas o pulsar mais forte do coração.

Havia apenas dois aparelhos de televisão em Pilões: um na residência do comerciante Paulo Coutinho, situada na Praça João Pessoa, justo na casa hoje pertencente ao Prefeito Coca; e outra na casa do Senhor Amando Cunha. Só no final da década é que o Prefeito Amando Cunha mandou instalar um aparelho no Clube Municipal, uma bela construção colonial, com a fachada revestida de azulejos portugueses, que foi demolida para dar lugar ao horroroso edifício da atual Telemar. O velho Clube Municipal também servia de palco para apresentações teatrais encenadas pelos jovens, assim como para exibição de filmes. (Hoje, a internet trava o sinal. Naquela época, o rolo de fita partia, levando a platéia a uma hilariante algazarra). Foi também nesse club e nessa televisão que muitos pilonenses - eu inclusive - assistimos a chegada da Apolo 11 à lua, com Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin Jr, em 20 de julho de 1969.

Na educação, foi reativado em 1968 o antigo Colégio 15 de Novembro, agora com o nome de Antônieta Corrêa de Menezes. Recebeu esse nome em homenagem a avó do então Prefeito José Lira Lins Sobrinho, responsável pela reativação do velho Colégio. Agora os estudantes de Pilões não precisavam mais, ir até Serraria para cursar o colegial (atual ensino Fundamental).

ESPORTE:
O futebol se consolidou como principal modalidade esportiva de Pilões. Equipes voltadas para a prática desse esporte se formavam por toda a zona rural. O Pilões, na zona urbana; e os times da Usina e do engenho Cantinhos eram contumazes rivais. As equipes de Cantinhos e da Usina sempre levaram a melhor quando o quesito era a violência em campo. Já o Pilões sobrava quando o assunto era placar do jogo. Ganhava quase todas para as equipes da zona rural.

A cavalhada não perdeu sua importância. Esse esporte dividia a população ao meio: de um lado, o cordão azul; do outro, o encarnado (vermelho). Grandes torneios eram disputados por toda a zona rural durante o ano. De tempos em tempos todos se reuniam na pista da Rua Hugo Cunha (na época essa rua não tinha nome, era parte da rua da várzea) para o que poderíamos classificar de final da cavalhada. A população toda acorria ao local. O resultado do embate era assunto para mais de semana.

PAISAGEM:


(Texto em construção e carente de revisão)

FONTES: José Sales da Silva e outros

sábado, 23 de maio de 2020

O REINO DA DINAMARCA.

FONTE: Google maps
Quem gosta de arte cênica, conhece bem a história da Dinamarca, pequeno país do norte da Europa, onde ocupa uma península e um conjunto de mais de 400 ilhas e ilhotas espalhadas pelos mares do Norte e Báltico, formando uma superfície de aproximadamente 45.000 quilômetros quadrados. Só como comparativo, o Estado da Paraíba ocupa uma área de aproximadamente 56.000 km².

É um pequenino belo país, com uma sociedade extremamente consciente dos valores que constituem uma verdadeira nação. São
mais de 5 milhões de habitantes que comungam de uma convivência social das mais avançadas do mundo. Eu estive lá, e pude constatar o quão é evoluído o Reino dos contos de Shakespeare.

O Reino da Dinamarca (monarquia parlamentarista - com um monarca Chefe de Estado, e um primeiro-ministro Chefe de Governo. Cargos atualmente exercidos por duas mulheres) é uma nação das mais antigas do continente europeu. Sua história remonta aos tempos dos antigos celtas, povos indo-europeus que povoaram quase toda Europa, mas a tradição conta que eles são os legítimos herdeiros dos lendários e temidos Vikgs, grandes viajantes dos mares que ocuparam toda a Escandinávia (Suécia, Noruega, Dinamarca) a partir das últimas décadas dos anos 700 da Era Cristã. Os Vikgs passaram à história como grandes navegadores, guerreiros e sanguinários. De serem grandes navegadores, não se tem dúvida, mas do resto pode ser uma extrapolação, uma reação atemporal da sanha comercial e exploradora daquela gente (eles e seus barcos estiveram em todas as regiões da Europa e, até, da América do Norte - isso ainda nos anos 1000 DC).

Voltemos ao país Dinamarca, suas terras, sua gente, seu estilo de vida. É um país magnifico, com excelente infraestrutura, habitado por um povo generoso e trabalhador.

A primeira coisa que vi na Dinamarca, foi a Legolândia. Binllud é o aeroporto em que pousou o avião da Lufthansa, que me trouxe de Frankfurt. Também é a cidade onde fica situado o parque temático da fabrica da Lego, colado à pista de pouso dos aviões. Quem baixa lá, inevitavelmente sobrevoa o famoso parque. Eu fiz isso no dia 08 de julho de 2019, para uma temporada de aproximadamente 45 dias em terras vikgs. Um presente de dinamarquês¹ que ganhei de Ana, Henrik, Lukas e Nicole.

A primeira semana foi uma massagem na visão e na alma. Fiquei hospedado na casa de campo gentilmente cedida pelo casal Sanne e Steen Bjerno. A casa fica as margens de um dos braços do fiorde de Lim (Limfjorden), de frente para a ilha de Mors. É um lugar paradisíaco. Fui agraciado com um café da manhã  numa casa de vidro, que repousa abraçada por uma exuberante cerca verde que circunda todo o terreno da construção, e onde repousa majestosa uma cerejeira repleta de frutos maduros. Uma de minhas aventuras nesse paraíso foi pilotar um cortador de grama a baixíssima velocidade. Houve até quem perguntasse se eu era o mesmo que pilotava uma Mitsubish a 150 km/h no Brasil, tamanha era a minha lerdeza na pilotagem do pequeno veículo equipado com motor de dois tempos. O esposo da questionadora aproveitou a ocasião para me ensinar como se deve pilotar um cortador de grama na Dinamarca. Apesar do esforço e dedicação do instrutor, confesso que não assimilei muita coisa. O brinquedinho é coisa para profissional. Eu me conformei com minha lerdeza. Conclui o corte da grama no tempo suficiente para se cortar 5 ou 6 vezes aquela área.
FONTE: Google Maps

Depois da casa de campo, brotou em mim o espírito viking. Foram sete dias singrando os mares interiores (Fiorde de Lim) em um Bianca 27. Bianca é um barco de duas velas, tido na Europa como um dos mais estáveis de sua categoria (assim afirmava a pirata-mor, que frequentemente manobra com desenvoltura seus molinetes automordentes). 

A bordo do Bianca, cortamos grande parte do Fiorde de Lim. Na ilha de FUR, visitei uma cervejaria artesanal. Lá, experimentei uma dezena de tipos de cerveja. A degustação foi ao lado dos tanques resfriados, onde se preparava mais cerveja. Fur é uma ilha pequena, mas que guarda um passado geológico gigantesco. Um cantinho da mãe-terra em que a natureza conspirou para que o lugar abrigasse uma quantidade significativa de animais fossilizados. De repente, eu me vi como um Ernst Stromer² tupiniquim, prospectando o interior daquelas pequenas montanhas à procura de uma espécie qualquer que tenha estado ali, onde eu estava naquele momento, há 100 milhões de anos. Busca infrutífera - eu só encontrei rochas com filetes grafados que pareciam ramos de alguma plana antiga e nada mais. Ana, Henrik, Lukas e Nicole tiveram a mesma sorte que eu. Aproveitamos e fomos ao museu local contemplar uma quantidade enorme de fósseis encontrados na região por outros visitantes mais afortunados que nós.  

O Bianca não é tão rápido como outros barcos semelhantes (lembrava-me aquela comandante das velas da nau), mas para que pressa, se o que queremos num lugar como aquele é admirar a beleza que a natureza, com tamanha generosidade, nos oferece. E beleza se percebe rapidamente, mas requer tempo de contemplação para que seja entendida em sua plenitude. O charmoso Bianca me deu as duas oportunidades. A propósito, numa dessas oportunidades em que cruzávamos o fiorde, quando o Bianca já estava sendo abraçado pelos ventos e cortava um mar ligeiramente encrespado, eu fui instado a assumir o controle da embarcação. Num primeiro momento eu percebi que não era tão fácil como parecia ser, mas encarei as ondas e peguei para mim o abraço dos ventos. O Bianca sentiu o tranco e se superou na velocidade. Não vou relatar aqui a reação daquela famosa pirata a bordo, de quem falei antes. A cena não condiz com a coragem e frieza de uma legítima e intrépida personagem da bandeira negra. Só posso dizer que a pequena sereia de olhos azuis e cabelos repletos de cachos dourados, que fazia parte da tripulação, demonstrou muito mais coragem e bravura. O pequeno capitão, também a bordo, não esboçou medo algum. Foi emocionante quando a borda da lateral (estibordo) do Bianca beijou a superfície fria do mar.

No final dos sete dias de caça aos ventos, o destemido Bianca voltou para casa, na marina de Hvalpsund, de onde só sairá no verão de 2020.

Durante os quase dois meses em que estive na Dinamarca, andei por vários lugares. Fui da fronteira sul (para ser mais exato, da cidade de Flensburg, na Alemanha, onde fomos passar o dia e aproveitar para comprar cerveja mais barata que na Dinamarca) até Skangen, no extremo norte do território dinamarquês, num lugar chamado "galho" - pequena faixa de areia que avança entre as águas do Mar do Norte (à esquerda) e as do Mar Báltico (estreito de Categate, à direita), apontando para a cidade sueca de Gotemburgo, no outro lado do estreito. Os sistemas de ventos e correntes marítimas dos dois mares criam ondas em sentidos opostos. Essas ondas se digladiam em uma linha reta que avança mar a dentro, formando um fenômeno único e belo numa região por si só lindíssima. Lugar em que ventos fortes sopram a todo instante. Aliás, o que muito me chamou a atenção foi a quantidade de pás de energia eólicas no país. Elas são vistas em todo o território. Parece plantações.

Egeskov Castle      -                            FOTO: M.J/ 2019
Cruzei o país de lesta a oeste. Estive na cidade de SONDERVIG (no litoral do Atlântico, de frente para a Inglaterra. Esse passeio foi um presente do casal Steen e Sanne). Em Sondervig, eu fui a uma exposição de escultura em areia. Figuras gigantescas em areia prensada formavam muralhas de até 5 metros de altura, ou mais. Também nessa cidade banhada pelo Mar do Norte eu pude conhecer uma quantidade gigantesca de 'bunkers' (fortificações com paredes espessas (até 2 metros em concreto maciço), construídos por ordem de Hitler para abrigar seus soldados invasores, que vigiavam a navegação no Atlântico Norte durante a Segunda Grande Guerra. Cruzando a parte continental da Dinamarca (JUSTLAND), eu conheci a cidade de ODENSE, na ilha Fiónia (Kyn), Não atravessei o "grande cinturão" (ponte) que leva à Zelândia (Sjaelland), ilha que abriga a capital, Copenhague. Odense é a cidade natal de Hans Christian Andersen, o autor de vários contos infantis, dentre eles: o Patinho Feio, A Pequena Sereia, A Princesa e a Ervilha, A Roupa Nova do Rei. Andersen é uma unanimidade na Dinamarca, e os lugares onde ele nasceu e residiu são muito bem conservados. Existe, inclusive, um moderno e belo museu dedicado à sua obra. Odense, por sua vez, - com suas ruas em paralelepípedos, seu casario no estilo enxaimel (fachwerk, em alemão), suas belas praças e jardins - é uma obra de arte à altura do filho ilustre que deu à humanidade. No sul da ilha Kyn, fica o "EGESKOV CASTLE" (Egeskov quer dizer floresta de carvalho), com seus mobiliários antigos, salão de caça, salão de armaduras e outros ambientes representativas do estilo de viver de 500 anos atrás.

Foram lugares marcantes, mas o que me traz maior impressão de toda essa viagem é a região onde fiquei hospedado e onde mora minha filha Ana, com seu marido e dois filhos nascidos lá. SILKEBORG é uma cidade de pequeno para médio porte, cercada de verde e muitos lagos. São lagos de tamanhos generosos. Inclusive naveguei um deles, em um barco a vapor, impulsionado por duas rodas d'águas - uma em cada lado -, construído no século XIX. Fiz um percurso de mais de 10 quilômetros e ainda sobrou lago a ser navegado. Foi um passeio cercado de história e belas paisagens. Às margens desse lago, fica o museu da cidade de Silkeborg. Foi lá que eu estive frente a frente com o homem mais velho de que se tem notícia (sic). Explico: O Homem de Tollund é o corpo de um homem que foi enforcado no século IV antes de Cristo, e jogado no pântano de uma região chama de Tollund. As condições ambientais (baixa variação de temperatura e elementos químicos presentes no pântano) funcionaram como um processo natural de mumificação e, em 1950, o corpo foi achado em bom estado de preservação. A falta de cuidado posterior à descoberta deterioram parte do corpo da múmia. O que se encontra hoje no museu é a reconstrução de como ele foi encontrado, tendo como original apenas a cabeça. Eu estive ao lado de sua caixa de vidro, e fui fotografado por Nicole Marie de Castro Lindberg (foto).

AARHUS (o encontro AA tem um som próximo do O) é a segunda maior cidade da Dinamarca, menor apenas que a capital, Copenhague. Fica a pouco mais de 50 km da casa de minha filha, Ana. Estive lá em duas ocasiões. Uma, em visita a uma exposição internacional de veleiros antigos ou construídos como tal (visitei o Cisne Branco, da marinha brasileira, construído em Amsterdã para a comemoração dos 500 anos do descobrimento); e outra, para participar de uma corrida de rua (no meu caso, foi uma caminhada à beira-mar). Avistei o Cisne Branco pela primeira vez do alto de uma roda-gigante instalada duas ruas antes do cais de Aarhus. Foi minha filha que notou três bandeiras enormes do Brasil tremulando no alto de seus mastros.

FOTO: Fulvio Paleari/2017
Em EBELTOFT, outra cidade também às margens do Báltico, eu escalei as cordas que cruzam os mastros de uma antiga fragata que embeleza um museu náutico. A Fragata Jylland, toda de madeira, beira os 200 anos. E enorme, e subir seu mastro principal, como faziam os velhos lobos dos mares, foi um desafio encarado por mim e por Henrik. Ana e meus netos Lukas e Nicole ficaram em terra firme, orando para que voltássemos bem da travessura de piratas.

Os modernos dinamarqueses são tidos como descendentes dos vikings, mas o período que esse povo dominou o território hoje ocupado pela Dinamarca foi muito pequeno (quem me chamou a atenção para esse detalhe foi genro Henrik Lindberg), comparados com os períodos dos outros povos que por lá viveram . Os celtas, por exemplo, habitaram aquelas terras por mais de o dobro de tempo que seus sucessores vikings. Se é verdade que os dinamarqueses de agora são descendentes dos vikings, então não é certa a visão construída em relação àqueles senhores dos mares, que os descrevem como bárbaros, sanguinários, guerreiros e ferozes. Os Dinamarca que eu conheci é habitada por uma gente, educada, simpática, muito afável no trato e extremamente leal. A impressão que tive era de que não estava num pais vizinho da Alemanha, Holanda, Suécia e Noruega, nações que nos deixam uma imagem de insensível e frios (no sentido não pejorativo) nos relacionamentos sociais, especialmente com pessoas não nativas.

HOLANDA

Há! Ainda me sobraram aventuras... Peguei um avião em Binllud com destino a Londres. Não exatamente Londres, foi para o aeroporto de Londres Stansted, onde passei a noite. No dia seguinte peguei outro avião com destino a Eindhoven, Holanda, para uma temporada de 12 dias. Fiquei em Helmond, na casa de minha irmã Cristina. Ela mora no sul da Holanda, perto da fronteira com a Bélgica e Alemanha. Aproveitamos uma tarde de muito sol para irmos tomar uma cerveja e um café no leste da Bélgica, numa cervejaria artesanal dentro de um antigo convento católico (Fazenda Esperança), assim mesmo, em um bom e acessível português. Era assim que estava escrito no muro do convento que guarda uma igreja monumental, construída em tijolos aparentes.

Haia foi um sonho de criança. Cresci ouvindo meu pai falando do famoso discurso proferido por Rui Barbosa durante a Segunda Conferência Internacional da Paz de 1907, em Haia. Pelo desempenho e erudição apresentada naquele evento, Rui Barbosa passou à história como o "Águia de Haia", expressão forjada pelo Barão do Rio Branco, então Ministro das Relações Exteriores dos Estados Unidos do Brasil³. Fiz um tour pelos corredores do Palácio da Paz, que abrigou aquela e muitas outras conferências internacionais voltadas à paz mundial. O busto do nosso glorioso brasileiro repousa numa passagem que nos conduz ao salão principal, onde Rui surpreendeu o mundo com sua erudição, inteligência e domínio das questões que envolviam as nações de sua época. É o único brasileiro homenageado pela instituição. Detalhe - não fiz fotos do interior do palácio. É proibido. Logo na entrada somos obrigados a guardar todos os pertences (principalmente equipamentos eletrônicos) num armário com senha gerada por nós mesmos. Ainda somos convidados a passar por um detector de metais para assegurarmos de que não conduzimos nada que possa quebrar a tradição de não se puder fazer fotos do seu interior. Um pena! ... Tudo lá é muito bonito. Colunas de mármore, escadas largas e bem talhadas, obras de arte de todos os cantos do mundo espalhadas por paredes, corredores, jardins e teto do Palácio. No jardim central da construção repousa uma escultura em mármore, doada pelo Reino da Dinamarca. Não lembro muito bem, mas parece que são sereias, em alusão ao filho famoso dos herdeiros dos vikigs.


"Oh! Viajar! Viajar! - É, na verdade, o destino mais feliz! E por isso viajamos, todos nós, tudo viaja em todo o Universo! Mesmo o mais pobre ser possui o cavalo alado do pensamento e quando fica fraco e velho, então toma-o a morte consigo em viagem, viajamos todos!"
Hans Chistian Andersen.
______________________________________________________________________________
  1. Presente de Dinamarquês: o oposto ao de grego.
  2. Ernst Freiherr Stromer von Reichenbach (1871 - 1952) foi um famoso paleontólogo alemão, que fez importantes descobertas de fósseis de dinossauros no Egito, em 1910.
  3. O Brasil só se passou a ser chamado de República Federativa do Brasil em 1968, após a Constituição de 1967.

sábado, 16 de maio de 2020

O NOVO CORONA VÍRUS II

O isolamento social é no momento o único remédio contra a "Covid-19". Portanto, fiquem em casa! Não deem ouvidos aos loucos. A pandemia é avassaladora e o Novo Corona Vírus mata impiedosamente. São quase 15 mil mortos no Brasil em pouco mais de um mês.

sexta-feira, 17 de abril de 2020

Dona DIDI - A professora que me ensinou a ler.

Foi com muito pesar que eu recebi a notícia do falecimento da professora Didi. Ela não foi de fato a primeira professora que eu tive, mas na minha memória ela surge como tal. Foi com ela que eu experimentei pela primeira vez a sensação gostosa de estar em um banco de escola, adquirindo conhecimento. Foi com ela que eu aprendi as primeiras letras, aprendi a ler.

Minha primeira escola, na verdade, foi uma que funcionava no engenho Labirinto. Escola essa que pertencia à rede municipal da vizinha cidade de Serraria. Mas minha experiência nessa unidade educacional foi tão traumática, que guardo na memória poucas coisas desse tempo - infelizmente entre esses guardados não está o nome da professora, que nada me ensinou. Não por culpa dela, como vai ficar claro logo abaixo.

Eu e  meus irmão tínhamos, cada um, uma especie de 'ama' para cuidar da gente. Uma tia chamada Cleonice, filha do terceiro casamento do pai de minha mãe, era a minha 'ama'. Ela me acompanhava em tudo na vida. E a escola não ficou de fora desse "tudo". Quando eu fui matriculado naquela unidade escolar do engenho Labirinto, Cleonice também foi.

A escola era uma construção de sala única, com um espaço para recreação dos alunos, uma cantina e uma residência para a professora. Tudo isso abrigado sob um telhado de quatro água. O espaço para recreação ficava no meio da construção, separando sala de um lado; cantina e residência da professora do outro. A sala de aula não era muito grande, mas dispunha de duas janelas - na parte voltada para a estrada que passava logo à frente da escola - protegidas do sol por uma estreita varanda. Confesso que o conjunto era harmonioso e bem pensado para os padrões da época. Aquela bucólica unidade escolar tinha seu charme.

Dentro da sala de aula havia um quadro verdadeiramente negro e quatro fileiras de bancadas duplas, onde os alunos sentavam aos pares. A bancada era composta de  assento e mesa para dois alunos em peça única. A parte que correspondia à bancada era ligeiramente inclinada na direção dos dois alunos que a ocupavam. Para que os lápis não rolassem no tablado da mesa, havia uma ranhura no topo onde os colocávamos. Também havia uma espécie de prancha de apoio logo abaixo da bancada, onde colocávamos nossas bolsas de material escolar - guardo na memória minha sacola branca de plástico leitoso com a marca NARCISO  em letras garrafais - e lancheiras.

Naquela época, os alunos eram separados por sexo. Os homens ocupavam as duas fileiras do lado esquerdo de quem olhava para o quadro; as mulheres ficavam nas outras duas. Foi esse detalhe que marcou minha passagem naquela escola - ou não marcou... A classe, não só por ser única, mas também por está em uma pequena comunidade de pouquíssimos alunos, funcionava no sistema multisseriado. Como Cleonice também estava matriculada, ela participava das aulas. Acontece que nessa situação eu só queria sentar perto dela, no lado reservado às mulheres. Foi aí que eu fui apresentado ao fenômeno que hoje se chama 'Bulling'. Os outros alunos começaram a me chamar de mulherzinha, e eu, claro, coloquei para fora meu instinto pitibull (sic). O resultado de tudo isso é que meus pais me retiraram da escola e, no ano seguinte, quando meu irmão Herminho já tinha idade suficiente, nos matricularam na cidade de Pilões, na escola Don Santino Coutinho, onde fomos cair justo na sala da professora Didi. Essa passagem também explica o fato de eu e Herminho - um ano mais novo que eu - termos frequentado as mesmas salas de aula durante as nossas vidas escolares.

Dona Didi não só me ensinou a ler e a escrever, ela me transmitiu a paixão pela leitura e pelo conhecimento. Sou hoje muito do que aprendi com ela. Meus filhos não a conheceram, mas são indiretamente produtos da abnegação e do amor pelo saber que ela me repassou com desprendimento, desenvoltura e prazer.

Descanse em paz, minha querida professora dona Didi.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

O NOVO CORONAVÍRUS

Fonte da imagem: folhauol.com.br
Cem anos após enfrentar a pandemia da Gripe Espanhola - que afetou quase um terço da população mundial, no final da Primeira Grande Guerra, e fez cinco vezes mais vítimas do que o próprio conflito bélico - o mundo se vê diante de mais um drama que ceifa vidas aos milhares no transcurso de apenas um dia.

Países como China, Itália e Espanha viveram um verdadeiro terror nos últimos dias do mês de março e nos primeiros quinze dias de abril. Itália e Espanha tiveram que sepultar, a cada 24 horas, mais de mil vitimas do vírus. Agora quem está às voltas com milhares de mortes diárias são os Estados Unidos. Do dia 11 para o dia 12 desse mês de abril o país contabilizou surpreendentes 2.270 corpos de pessoas que perderam a batalha para o Novo Coronavírus.

O vírus desembarcou no Brasil, provavelmente pelos portos e aeroportos, e já provocou uma verdadeira revolução nos costumes e comportamento da população. Campina Grande, por exemplo, está praticamente vazia. As ruas desertas me fazem lembrar meus tempos de criança em Pilões, nos idos dos anos 1960, em que eu e meus colegas de idade improvisávamos campinhos de futebol em pleno leito das ruas vazias. Naquela época podíamos contar nos dedos das mãos os carros existentes na cidade. Além da Aero willys de Hugo Cunha, do Jeep do senhor Amando cunha, do Jeep 4 portas do senhor Antônio Babadinho e outro de Joca Cunha, só nos podiam causar pertubação nas nossas ¨peladas¨com bola de plástico os caminhões Chevrolet do senhor Antônio Damião e o Ford de seu Basto. Havia também o jeep do senhor Abdias da loja de tecidos, mas esse raramente saia de cima de 4 toras de madeira na garagem dos fundos da loja.  Podemos citar o Simca Chambor de dona Violeta Cunha, mas esse também não arredava os pés (sic) da garagem, a mesma que hoje guarda o carro do vereador Mateus.

quarta-feira, 8 de abril de 2020

PATRIMÔNIO IMATERIAL DE PILÕES

A Constituição de 88, no seu art. 216, fala de Patrimônio Cultural material e imaterial. Conceito mais abrangente do que o de Patrimônio Histórico e Artístico. A noção de Patrimônio Cultural abraça, além dos bens históricos e artísticos até então bastante badalados no meio, valores imateriais, que compreendem tradições e costumes herdados do passado, trabalhados no presente e repassados para as gerações futuras. Lendas, danças, músicas, festas, lugares e formas de sociabilidade, artes cênicas, etc., formam o conjunto do patrimônio cultural imaterial de um agrupamento humano.

A ruína de um conjunto arquitetônico; de uma escultura, um quadro, ou uma peça artística já é muito dolorosa e, na maioria das vezes, irreversível. A perda de um bem imaterial é irreversível quase que plenamente.

João de Gado, escultor popular que talhava galhos, raízes e troncos de árvores - de onde fazia surgir belas imagens religiosas e peças outras - desapareceu sem que ninguém tivesse tido o cuidado de preservar sua produção. A única referência da obra desse grande artista pilonense, que viveu até meados do século passado, é a possibilidade de que uma imagem que adorna a capela do cemitério de Pilões seja de sua lava.

"Antonhe Macie" (Antônio Marcílio) corre o mesmo risco de ter sua obra (versos e canções) perdida para sempre.

Isso é apenas o que está visível. Quantas 'estórias', lendas, superstições, habilidades pessoais não estão correndo o mesmo risco de morrerem com seus detentores? ...Quantas???


Eu, a Secretária Iacy Ramalho e a consultora do SEBRAE, Marlene estivemos com Antonhe Macie e gravamos essa pérola que você pode acessar nesta postagem. Pena que a Insensibilidade da Iacy frustrou a performance do poeta.


terça-feira, 22 de outubro de 2019

Dom Pedro II na TV francesa,

Dom Pedro II na TV francesa

por Andre Motta Araújo





Na fabulosa série, SEGREDOS DA HISTÓRIA, a TV 5 da França dedicou um programa de quase duas horas ao ÚLTIMO IMPERADOR DO BRASIL, um trabalho ESPETACULAR, com atores e gravações “in loco” no Brasil, em Portugal e na França, com análises e interpretações raras que jamais se produziram antes. [aqui]
O episódio mostra um GRANDE PERSONAGEM não só do Brasil, mas da História do Século XIX, um Chefe de Estado com enorme interesse na CULTURA, na CIÊNCIA, no HUMANISMO, amigo pessoal de grandes nomes da literatura e da ciência como Vitor Hugo e Louis Pasteur, este último inclusive ajudado financeiramente pelo Imperador nas sua pesquisa sobre a raiva. Único Chefe de Estado das Américas a ser convidado pelo Presidente dos EUA para a Exposição Universal de Filadélfia onde conheceu Grahan Bell, inventor do telefone, então uma novidade.
O Imperador visitou lugares tão longínquos, como o Líbano e o Egito, aficionado da fotografia, legou ao Museu Histórico Nacional 25 mil fotografias tiradas por ele mesmo, Imperador do Brasil.
Quando viajava não se registrava nos hotéis como Imperador do Brasil e sim como um cidadão comum, Pedro de Alcantara. Quando a Rainha Vitoria lhe conferiu a mais alta condecoração britânica, a Ordem da Jarreteira, foi lhe entregar pessoalmente no Hotel Claridge em Londres, onde, na portaria, não sabiam que aquele hospede era o Imperador do Brasil. Dom Pedro tinha recusado a cerimônia de recebimento da condecoração em palácio.
UM PERSONAGEM DE EXCEPCIONAL ESTATURA
Dom Pedro II foi um personagem único na América Ibérica. Nenhum outro Chefe de Estado chegou perto do nível pessoal e dimensão do nosso Imperador, realmente o criador da Nação brasileira. Governou por mais tempo do que qualquer outro Chefe de Estado, moldou a feição e o caráter de um País muito diferente, mais multicultural, multiétnico e complexo do que qualquer outro País da América Ibérica, um País de pedigree único.
Registre-se que, entre os Reis da época, nenhum tinha essa afinidade com a evolução da ciência e da cultura e um interesse tão focado em modernidade, invenções e progresso intelectual. Dom Pedro era muito mais “antenado” do que outros monarcas, um homem de saber especial.
A GRANDEZA NA DEPOSIÇÃO
Deposto por uma conspiração mal explicada, mal costurada e mal intencionada, o Imperador recebeu de imediato o apoio da Marinha, força leal sob o comando do Almirante Marquês de Tamandaré que se propôs a enfrentar os revoltosos republicanos. O Imperador recusou, dizendo que jamais seria o epicentro de uma guerra civil no Brasil. O núcleo republicano NÃO era unânime no Exército, o golpe venceu pela surpresa, não havia nas ruas uma movimentação republicana. O Imperador era muito popular na população mais humilde, embora não tivesse o mesmo apoio na aristocracia prejudicada pela Abolição da Escravatura no ano anterior.
A República foi um golpe das elites e não do povo. O Brasil perdeu uma liderança de respeito mundial e se tornou mais uma república latino-americana, enquanto o Império era único e de maior grandeza na constelação dos novos países das Américas, nenhuma das nova Repúblicas tinha a reputação e o prestígio do Império do Brasil, cuja Marinha rivalizava com a dos EUA no terceiro quartil do Século XIX. Aliás, o Brasil nessa época era maior em território do que os EUA que ainda não estava com seu espaço formado.
O PAPEL DA FRANÇA
O programa da TV 5 dá grande destaque à ligação do Império do Brasil com a França, pela sucessão Orleans da família imperial, que também era Habsburgo e Bragança. A sucessão do Império se daria pela linha Orleans do consorte da herdeira do trono, a Princesa Isabel, o conde d´Eu, neto do último Rei dos Franceses, Luis Felipe de Orleans e que deu origem à Casa de Orleans e Bragança. O programa também entrevistou um dos atuais herdeiros da Casa Imperial.
Parte das filmagens foi em Petrópolis, parte no Rio, todos os palácios da Monarquia foram detalhadamente documentados com excelentes imagens, bem como o Palácio de Queluz em Portugal, primeira parada do exílio e, também, completas imagens do Hotel Bedford em Paris, onde Dom Pedro viveu seus últimos dias e onde faleceu.
Impressionante as imagens do FUNERAL EM PARIS de Dom Pedro II, com a presença de 300.000 pessoas, com toda a pompa a um Chefe de Estado no exílio, cerimonial organizado pela República Francesa. O programa depois reportou o translado do corpo para Petrópolis, e registrou detalhadamente o martírio do exílio, com o embarque humilhante do Imperador na madrugada para não atrair o povo e a recusa de Dom Pedro de qualquer estipendio que lhe foi oferecido pela República, teve um exílio modesto pago pelos parentes franceses.
A ESCRAVIDÃO
O programa dedicou bom tempo ao tema da escravidão e da posição antiescravagista do Imperador muito anterior à Abolição. Foram filmadas detalhadamente duas fazendas na região de Vassouras, no Rio de Janeiro, que estão especialmente bem preservadas, uma que tinha 300 escravos e outra 400, com suas senzalas intactas. A questão da escravatura mereceu grande parte do programa e foi tratada como central na queda do Império.
O programa citou o conhecido episódio de um baile imperial onde estava presente o engenheiro André Rebouças, negro alforriado, com quem nenhuma moça dançava, o Imperador ordenou à Princesa Isabel que dançasse com Rebouças para mostrar a atitude da Monarquia com os negros.
O MONARCA AMBIENTALISTA
O programa deu grande destaque ao papel ambientalista do Imperador, ao replantar a FLORESTA DA TIJUCA, que tinha sido desmatada para lenha e, graças ao que fez, o Rio tem a maior floresta urbana do planeta. Dom Pedro II dava enorme importância à cartografia do Brasil, com os registros de todos os rios e afluentes e TRIBOS INDÍGENAS OCUPANTES DE TERRITÓRIO, bem como aos registos da FAUNA e da FLORA brasileiras.
Dom Pedro II financiou, do próprio bolso, várias expedições científicas por grandes especialistas europeus que produziram mapas minuciosos para a época, exibidos para o programa e que se encontram bem preservados nos museus do Rio de Janeiro, bem como desenhos primorosos de plantas e animais das nossas florestas. O Imperador cuidava pessoalmente desses inventários, tinha enorme interesse pela natureza do Brasil, que considerava um tesouro a preservar.
A REPÚBLICA SE ENCARREGOU DE DIMINUIR O IMPERADOR PARA AS GERAÇÕES FUTURAS
Por insegurança, especialmente depois da Guerra de Canudos, que tinha um caráter monarquista, a República diminuiu a figura do Imperador deposto e, hoje, os brasileiros conhecem muito pouco desse grande personagem, fundador da Nação brasileira, pouco reverenciado, quando deveria ser o grande ÍCONE DA NAÇÃO. Se ocupou, por décadas, do País ao qual se ligou profundamente, aqui largado menino, sem pai e sem mãe, cuidado por tutores e preceptores. Na realidade, se moldou e se fundiu com o País do qual é o maior símbolo histórico.
O programa apresenta o caso do negro Rafael, criado que cuidou de Dom Pedro desde criança e que morreu de desgosto no dia da deposição, caindo no chão do Palácio da Quinta da Boa Vista.
Um grande documento foi essa série da TV5 da França, que deveria ser retransmitido pela TV brasileira nestes tempos de obscuridade terraplanista, para que os brasileiros melhor conheçam suas raízes históricas de que devem se orgulhar.
Dom Pedro foi um homem SÁBIO, MODESTO, ÍNTEGRO e cuja paixão pelo Brasil é a própria raiz da nacionalidade hoje com tantas dúvidas, riscos e abismos na sua trajetória histórica de quase 200 anos.
FONTE: Jornal GGN
Leia o original em: 
NOTA: Fiz um copia e cola do original publicado no JORNAL GGN. Tive a ousadia de publicar aqui porque é uma parte da história do Brasil a que todos nós deveríamos ter acesso. O jornalista fez um texto excelente. Não resisti.

quarta-feira, 9 de outubro de 2019

USO DOS PORQUÊS.

Uma dúvida que aflige muitos usuários da língua de Camões - o uso dos porquês.

Quando utilizar por que separado (com ou sem acento) ou porque em uma só palavra (com ou sem acento)?

No tempo de nossas avós, dizia-se que o "por que" (separado e sem acento) era utilizado em frases interrogativas; e o "porque" (uma só palavra e sem acento) era utilizado para respostas. Não é bem assim. Esse método não ajuda em nada na correta utilização dos PORQUÊS.

I - POR QUE (em duas palavras).

Você utiliza "por que" em 3 situações específicas:

1) Quando você puder substituir perfeitamente o "por que" por  "por qual".

Exemplo:

- Não houve como identificar por que caminho seguiu a procissão. (... por qual caminho...).

2) Quando você puder substituir perfeitamente o "por que" por "pelo qual".

Exemplo:

- Esse é o motivo por que não retornei sua ligação.  (... pelo qual não retornei...).

3) Quando ficar subentendida a presença das palavras (motivo ou razão) após o por que.

Exemplos:

- Eis por que a turma do primeiro ano B é considerada a melhor da escola.
 (Eis por que motivo/razão a turma ...)

- Não conseguiu o policial explicar por que não conteve o agressor daquela senhora.
 (Não conseguiu o policial explicar por que motivo/razão não...)

- Por que a secretaria da escola não publicava as notas dos alunos? Isso a diretoria não explicou.
 (Por que motivo/razão a secretaria da escola não...?)

Em resumo: você utiliza o "por que" separado quando puder substituir por "por qual", "pelo qual" ou ficar subentendida a presença da palavra motivo/razão em seguida ao "por que".

Quando não for possível fazer uso de uma dessas três situações descritas acima, você está diante da utilização do "porque" em uma só palavra ( porque = conjunção causal ou explicativa, com valor aproximado de "pois", "uma vez que".

II - POR QUÊ (separado e com acento).

"Por quê" (separado e com acento) é utilizado quando a palavra, além de se submeter a uma das três situações descritas acima (para "por que" separado), for seguida por qualquer sinal de pontuação (ponto, interrogação, exclamação, vírgula, dois pontos).

Exemplos:

- A diretoria da escola não publicou as notas dos alunos por quê?

- O professor não permitiu que o aluno deixasse a prova para reposição por quê, se essa possibilidade está prevista no regulamento da escola?

- O segurança não veio ao treinamento e não disse por quê.

- Não vou perdoá-lo e ele sabe por quê: brigamos feio da última vez.


III - PORQUE (em uma só palavra).

Em todos os demais casos em que  não for possível aplicar uma das 3 regras citadas para "por que".

Exemplos:

- Não fui ao trabalho porque acordei com febre (não fui ao trabalho pois acordei com febre).

O proprietário do taxi não fazia manutenção de seu veículo. Porque não lucrava o suficiente com o serviço? Não, porque era simplesmente irresponsável.

No primeiro exemplo, substituir a palavra porque por "por qual" ou "pelo qual" deixaria a frase estranha e sem sentido. Da mesma forma, não fica subentendida a presença da palavra (motivo/razão) em seguida.

Já no segundo exemplo, se fossemos recorrer às explicações do tempo de nossas vovozinhas, você seguramente, ao notar a presença do ponto de interrogação ao final, iria colocar por que (assim mesmo, separado) na primeira ocorrência da palavra. Note que em nenhuma das duas ocorrências da palavra no segundo exemplo é possível fazer uma daquelas três substituições sugeridas para o uso de "por que" (separado).


IV - PORQUÊ (junto e com acento).

Esse é o caso mais simples. Porquê (juto e acentuado) é quanto se tem a presença de um termo determinante imediatamente anterior à palavra, transformando-a em um substantivo. Pode ser qualquer determinante (o, os, aquele, vários, esse, este, nesse, um, algum, meu, seu, nosso, ...etc.).

Exemplos:

- É impossível entender os porquês das contradições humanas.

- Um de vocês poderia explicar o porquê de tanta agressividade?

- O porquê de não estar conversando é porque quero me concentrar no filme.

- Apresente-me apenas um porquê para que eu haja de outra forma.

- Nossos porquês só o tempo explica.

Note que em todos os exemplos a palavra "porquê" tem sentido de razão/motivo, o que poderia nos levar a aplicar a terceira regra do "por que" (separado e sem assento). Mas nesse caso a presença do determinante prevalece, transformando a palavra em um substantivo.





quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

ÁGUA DE BEBER

Ontem chegou água na minha Rua. Moro na Norberto Baracuhy - o que poderíamos chamar de lado Oeste da cidade de Pilões - e, após mais de 10 dias sem água, a Cagepa liberou o precioso líquido para essa banda da cidade. O outro lado foi atendido no dia de hoje.

A barragem da Cagepa não tem água, e a captação em Poções praticamente não existe mais. A cidade vive o maior racionamento d'água de sua histórica. A população está se socorrendo dos poços artesianos que existem nos bairros, o que é insuficiente para atender a todos. O poço do Conjunto Amando Cunha - de maior vazão - é o mais concorrido: a Prefeitura foi obrigada até a disciplinar o acesso àquele logradouro.

Fornecer água para os residentes de Pilões é responsabilidade da Cagepa, empresa do Governo do Estado que há mais de um ano não fez nenhum investimento no Município.

Uma insignificante minoria, com o perdão do pleonasmo, achou por bem solicitar da Justiça a suspensão da cobrança das contas dos moradores, achando que com isso resolveria o problema: agravou. Agora, os consumidores não precisam mais se preocupar com o consumo e muito menos com o desperdício. A medida, ao invés de estimular o racionamento, funciona como um forte estímulo ao consumo irresponsável.

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

SALVO POR UM LANTERNINHA

Manhã  de uma segunda-feira ensolarada...

Depois de uma boa noite de sono acordei, tomei um belo banho, fiz a barba, vasculhei o guarda-roupas em busca do que vestir; encontrei apenas camisas de mangas compridas...

Escolhi a menos brega, mesmo assim fiquei parecido com o Faustão em uma tarde de domingo em que ele se supera no ridículo.

Já devidamente engomadinho, fui até a garagem do prédio, peguei o carro e parti em direção a Pilões.

Antes, por comodidade, parei no supermercado mais chique de Campina Grande para fazer algumas compras. Coisa pouca, alguns brides para uns poucos amigos. Aqueles mais próximos, mais presentes, mais íntimos. Lembrei de todos, claro, mas o mar não pra peixe, não dá para presentear todos quando tudo no Brasil parece estar pela hora da morte.

Depois de varrer todos os corredores do supermercado, dirigia-me eu para o caixa com o carrinho carregado com panetones, vinhos, queijos e frutas. Coisas de final de ano... Período em que perdemos os limites da prudência e extrapolamos nas compras. Afinal, temos doze meses pela frente para diluirmos o arrependimento. - A dor dói com mais humanidade...

- Hei! Psiu! ...Tá orgulhoso, é! - Palavras que me chegavam aos ouvidos sem que eu soubesse de onde ou de quem partiam.

Dei uma rápida olha ao redor e não vi ninguém. Foi quando de entre algumas gôndolas carregadas de chocolates e biscoitos finos surgiu uma bela morena, caminhando com passos firmes e largos em minha direção.

- Não fala mais com os amigos, não, é? ... Indagou uma aproveitável jovem de cabelos castanhos.

Sem deixar espaço para que eu fizesse qualquer pergunta, completou:

- Eu tô morando aqui pertinho. Minha mãe foi embora pra São Paulo... Não sabia, não? Eu agora moro sozinha.

- Mas, mas .... Tentei falar sem sucesso. Ela não parava de destilar frases mostrando intimidade. Muita intimidade!

- Liga pra mim! ...Não tem mais meu número?  - Tagarelou ela.

- Moça, você não está me confundindo com outra pessoa? - Foi a frase mais longa que consegui pronunciar.

- Não lembra, não? ...Eu trabalhei muitos anos no Bompreço. - E completou:
Anote aí meu número, vai!!!!

Mesmo desconsertado diante de tão inusitada situação, e depois de ter dado uma rápida olhada para o conjunto da obra, me submeti ao desejo da desconhecida e saquei do bolso da calça o meu surrado LANTERNINHA.

Aquela impetuosa e decidida moça arregalou os olhos, estendeu uma das mãos espalmada em minha direção, como se quisesse me empurrar, levou a outra até a boca, na tentativa de esconder um sorriso amarelo nos lábios, e disparou:

- Não, não... Deixa pra lá!

Foram suas últimas palavras, instantes antes de sumir tão misteriosamente quanto surgiu.

...Acho que ela não se agradou do meu falante!