terça-feira, 22 de outubro de 2019

Dom Pedro II na TV francesa,

Dom Pedro II na TV francesa

por Andre Motta Araújo





Na fabulosa série, SEGREDOS DA HISTÓRIA, a TV 5 da França dedicou um programa de quase duas horas ao ÚLTIMO IMPERADOR DO BRASIL, um trabalho ESPETACULAR, com atores e gravações “in loco” no Brasil, em Portugal e na França, com análises e interpretações raras que jamais se produziram antes. [aqui]
O episódio mostra um GRANDE PERSONAGEM não só do Brasil, mas da História do Século XIX, um Chefe de Estado com enorme interesse na CULTURA, na CIÊNCIA, no HUMANISMO, amigo pessoal de grandes nomes da literatura e da ciência como Vitor Hugo e Louis Pasteur, este último inclusive ajudado financeiramente pelo Imperador nas sua pesquisa sobre a raiva. Único Chefe de Estado das Américas a ser convidado pelo Presidente dos EUA para a Exposição Universal de Filadélfia onde conheceu Grahan Bell, inventor do telefone, então uma novidade.
O Imperador visitou lugares tão longínquos, como o Líbano e o Egito, aficionado da fotografia, legou ao Museu Histórico Nacional 25 mil fotografias tiradas por ele mesmo, Imperador do Brasil.
Quando viajava não se registrava nos hotéis como Imperador do Brasil e sim como um cidadão comum, Pedro de Alcantara. Quando a Rainha Vitoria lhe conferiu a mais alta condecoração britânica, a Ordem da Jarreteira, foi lhe entregar pessoalmente no Hotel Claridge em Londres, onde, na portaria, não sabiam que aquele hospede era o Imperador do Brasil. Dom Pedro tinha recusado a cerimônia de recebimento da condecoração em palácio.
UM PERSONAGEM DE EXCEPCIONAL ESTATURA
Dom Pedro II foi um personagem único na América Ibérica. Nenhum outro Chefe de Estado chegou perto do nível pessoal e dimensão do nosso Imperador, realmente o criador da Nação brasileira. Governou por mais tempo do que qualquer outro Chefe de Estado, moldou a feição e o caráter de um País muito diferente, mais multicultural, multiétnico e complexo do que qualquer outro País da América Ibérica, um País de pedigree único.
Registre-se que, entre os Reis da época, nenhum tinha essa afinidade com a evolução da ciência e da cultura e um interesse tão focado em modernidade, invenções e progresso intelectual. Dom Pedro era muito mais “antenado” do que outros monarcas, um homem de saber especial.
A GRANDEZA NA DEPOSIÇÃO
Deposto por uma conspiração mal explicada, mal costurada e mal intencionada, o Imperador recebeu de imediato o apoio da Marinha, força leal sob o comando do Almirante Marquês de Tamandaré que se propôs a enfrentar os revoltosos republicanos. O Imperador recusou, dizendo que jamais seria o epicentro de uma guerra civil no Brasil. O núcleo republicano NÃO era unânime no Exército, o golpe venceu pela surpresa, não havia nas ruas uma movimentação republicana. O Imperador era muito popular na população mais humilde, embora não tivesse o mesmo apoio na aristocracia prejudicada pela Abolição da Escravatura no ano anterior.
A República foi um golpe das elites e não do povo. O Brasil perdeu uma liderança de respeito mundial e se tornou mais uma república latino-americana, enquanto o Império era único e de maior grandeza na constelação dos novos países das Américas, nenhuma das nova Repúblicas tinha a reputação e o prestígio do Império do Brasil, cuja Marinha rivalizava com a dos EUA no terceiro quartil do Século XIX. Aliás, o Brasil nessa época era maior em território do que os EUA que ainda não estava com seu espaço formado.
O PAPEL DA FRANÇA
O programa da TV 5 dá grande destaque à ligação do Império do Brasil com a França, pela sucessão Orleans da família imperial, que também era Habsburgo e Bragança. A sucessão do Império se daria pela linha Orleans do consorte da herdeira do trono, a Princesa Isabel, o conde d´Eu, neto do último Rei dos Franceses, Luis Felipe de Orleans e que deu origem à Casa de Orleans e Bragança. O programa também entrevistou um dos atuais herdeiros da Casa Imperial.
Parte das filmagens foi em Petrópolis, parte no Rio, todos os palácios da Monarquia foram detalhadamente documentados com excelentes imagens, bem como o Palácio de Queluz em Portugal, primeira parada do exílio e, também, completas imagens do Hotel Bedford em Paris, onde Dom Pedro viveu seus últimos dias e onde faleceu.
Impressionante as imagens do FUNERAL EM PARIS de Dom Pedro II, com a presença de 300.000 pessoas, com toda a pompa a um Chefe de Estado no exílio, cerimonial organizado pela República Francesa. O programa depois reportou o translado do corpo para Petrópolis, e registrou detalhadamente o martírio do exílio, com o embarque humilhante do Imperador na madrugada para não atrair o povo e a recusa de Dom Pedro de qualquer estipendio que lhe foi oferecido pela República, teve um exílio modesto pago pelos parentes franceses.
A ESCRAVIDÃO
O programa dedicou bom tempo ao tema da escravidão e da posição antiescravagista do Imperador muito anterior à Abolição. Foram filmadas detalhadamente duas fazendas na região de Vassouras, no Rio de Janeiro, que estão especialmente bem preservadas, uma que tinha 300 escravos e outra 400, com suas senzalas intactas. A questão da escravatura mereceu grande parte do programa e foi tratada como central na queda do Império.
O programa citou o conhecido episódio de um baile imperial onde estava presente o engenheiro André Rebouças, negro alforriado, com quem nenhuma moça dançava, o Imperador ordenou à Princesa Isabel que dançasse com Rebouças para mostrar a atitude da Monarquia com os negros.
O MONARCA AMBIENTALISTA
O programa deu grande destaque ao papel ambientalista do Imperador, ao replantar a FLORESTA DA TIJUCA, que tinha sido desmatada para lenha e, graças ao que fez, o Rio tem a maior floresta urbana do planeta. Dom Pedro II dava enorme importância à cartografia do Brasil, com os registros de todos os rios e afluentes e TRIBOS INDÍGENAS OCUPANTES DE TERRITÓRIO, bem como aos registos da FAUNA e da FLORA brasileiras.
Dom Pedro II financiou, do próprio bolso, várias expedições científicas por grandes especialistas europeus que produziram mapas minuciosos para a época, exibidos para o programa e que se encontram bem preservados nos museus do Rio de Janeiro, bem como desenhos primorosos de plantas e animais das nossas florestas. O Imperador cuidava pessoalmente desses inventários, tinha enorme interesse pela natureza do Brasil, que considerava um tesouro a preservar.
A REPÚBLICA SE ENCARREGOU DE DIMINUIR O IMPERADOR PARA AS GERAÇÕES FUTURAS
Por insegurança, especialmente depois da Guerra de Canudos, que tinha um caráter monarquista, a República diminuiu a figura do Imperador deposto e, hoje, os brasileiros conhecem muito pouco desse grande personagem, fundador da Nação brasileira, pouco reverenciado, quando deveria ser o grande ÍCONE DA NAÇÃO. Se ocupou, por décadas, do País ao qual se ligou profundamente, aqui largado menino, sem pai e sem mãe, cuidado por tutores e preceptores. Na realidade, se moldou e se fundiu com o País do qual é o maior símbolo histórico.
O programa apresenta o caso do negro Rafael, criado que cuidou de Dom Pedro desde criança e que morreu de desgosto no dia da deposição, caindo no chão do Palácio da Quinta da Boa Vista.
Um grande documento foi essa série da TV5 da França, que deveria ser retransmitido pela TV brasileira nestes tempos de obscuridade terraplanista, para que os brasileiros melhor conheçam suas raízes históricas de que devem se orgulhar.
Dom Pedro foi um homem SÁBIO, MODESTO, ÍNTEGRO e cuja paixão pelo Brasil é a própria raiz da nacionalidade hoje com tantas dúvidas, riscos e abismos na sua trajetória histórica de quase 200 anos.
FONTE: Jornal GGN
Leia o original em: 
NOTA: Fiz um copia e cola do original publicado no JORNAL GGN. Tive a ousadia de publicar aqui porque é uma parte da história do Brasil a que todos nós deveríamos ter acesso. O jornalista fez um texto excelente. Não resisti.

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