terça-feira, 23 de novembro de 2010

ANOS 50 - SÉCULO XX

Dias conturbados, aqueles do início da década de 50. Pilões vivia a humilhação de uma dependência político-administrativa ao vizinho município de Serraria - um povoado ligeiramente menos importante que o de Pilões, econômica e politicamente -, que já durava mais de cinco décadas. Durante esse tempo, vários piloneses ilustres foram eleitos prefeitos de Serraria, que na época compreendia, também, os povoados de Arara e Pilões. E mais pilonenses não chegaram à cadeira principal do poder por conta da divisão que havia entre as principais famílias aqui residentes, divididos, que estavam, em dois grupos distintos e antagônicos. As famílias Lins, Correia, Rufo e Meneses integravam uma facção de cunho mais progressista para os padrões da época; Lira, Cunha e Baracuhy formavam o grupo de viés mais pragmático, conservador.

Só um desejo unia essas duas facções eternamente em conflito: o de ver Pilões emancipado de Serraria.

A luta pela independência, que surgiu no mesmo instante em que Pilões perdeu a condição de Termo - isso no final do século XIX -, tomou corpo no final da década de 40 do século XX, e intensificou-se nos primeiros anos da década de 50. Todos os que tinham no sangue a chama patriótica, o amor e a crença na pujança da terra dos 32 engenhos, uniram forças em prol da liberdade. O destaque maior coube ao desembargador Braz Baracuhy, filho dessas terras, nascido nas 'várzeas' do engenho Boa-Fé. Foi - o dinâmico Baracuhy - o grande timoneiro dessa empreitada que se sagrou vitoriosa em 20 de agosto de 1953. Naquele dia, lei que criou o município de Pilões  foi assinada pelo então Governador José Fernandes de Lima.

POLÍTICA:

Vinte de agosto de 1953 foi o dia da emancipação. Mas só em 27 de dezembro daquele ano é que realmente o município foi implantado, inclusive com a criação da Comarca de Pilões. Também nesse dia 27 foi escolhido, pelo governador, o primeiro prefeito do município, o senhor Amando Xavier Pereira da Cunha, proprietário dos engenhos Livramento e Santana (Riachão). Essa escolha teve o dedo do desembargador Braz, pilonense que desfrutava de uma amizade muito próxima ao governador da época.

O Prefeito Amando Cunha governou por 2 anos, como determinava o ato de sua nomeação, e repassou o poder, em 1956, para o prefeito eleito no ano anterior, o farmacêutico Hermes do Nascimento Lira, figura muito popular em toda a região pela maneira como tratava as pessoas, principalmente os mais humildes. Hermes Lira era o líder maior da facção de que fazia parte, também, Amando Cunha e a família Baracuhy. Essa última, proprietária do engenho Boa-Fé. No segundo ano de mandato de Hermes Lira chegou ao município de Pilões, proveniente de Arara, com a finalidade de ajudá-lo no trabalho da farmácia, o jovem de nome José Sales da Silva, que viria a se eleger prefeito de Pilões no início dos anos 80.

Foi na substituição do senhor Hermes que se deu a grande mudança de poder em Pilões. Em uma eleição bastante disputada, foi eleito o candidato de oposição, o senhor José Lira Lins, proprietário do engenho Porções, casado com a filha do dono do engenho Pinturas de Cima. Embora com 'Lira' no nome, era integrante do outro grupo político, o grupo que tinha um viés mais popular e que era formado, também, pelas famílias Rufo e Correia de Meneses. Hermes Lira e José Lira Lins, embora de grupos distintos, adotaram, ambos, um estilo populista de muita assistência econômica à população, tendo o segundo se destacado, também, pelo incentivo que deu ao futebol.

José Lins concluiu seu mandato quando concluída estava a década de 50. Deixou como sucessor o seu sobrinho José Lira Lins Sobrinho, filho do proprietário da Usina Santa Maria, Solon Lira Lins.

ECONOMIA:

A monocultura da cana-de-açúcar para a produção de rapadura e cachaça era praticamente o único produto relevante da economia do município na época de sua emancipação. Os 26 engenhos resultantes do acordo da separação de Serraria estavam a pleno vapor. A usina Santa Maria, no município de Areia, era uma ameaça distante à indústria da rapadura. A produção de outras culturas, pelos pequenos agricultores, era insignificante diante da importância econômica representada pela cana-de-açúcar. Só o sisal apresentava estatura suficiente para ser notado como produto importante no cardápio econômico do município. A pecuária era inexistente. Destaque apenas para pequenas criações voltadas para a alimentação familiar, seja no fornecimento de leite, no caso do gado; seja no de carne, com a criação de aves, suínos e caprinos.

A comunidade de Poço Escuro já se destacava por reunir pequenos agricultores voltados para a produção de frutas e pequenas lavouras de sustento familiar. Aquela comunidade já exibia sua vocação para a cultura do caju, da manga, da laranja, do urucum. Poço Escuro foi a comunidade que ensinou Pilões a enxergar valor comercial nas pequenas produções agrícolas.

Poço Escuro, Chã dos Cordeiros, Queimadas, os Magalhães (sítio Labirinto) e a isolada Cachoeira dos Paulinos - que juntas não representavam nem cinco por cento do território do Município -, eram as únicas terras em mãos de pequenos agricultores. Todo o resto pertencia a pouco mais de vinte famílias, cada uma liderada por apenas um homem (chefe de família). Guardadas suas relevantes diferenças, poderíamos dizer que nos moldes de um "feudalismo tardio", com os moradores praticamente ligados à terra do engenho por um compromisso de fidelidade à 'casa grande'.

Por conta dessa concentração, era comum o sistema de 'meia', modelo de parceria em que os agricultores, geralmente moradores das grandes propriedades, faziam suas roças em terras do patrão e dividiam em partes iguais o fruto desse trabalho. Era um sistema injusto, suportado apenas por falta de outra opção menos danosa ao trabalhador e à sua família. Toda a família do trabalhador, inclusive filhos pequenos, era utilizada na formação dessas  lavouras repartidas como o patrão. Ainda havia um outro agravante: quando o agricultor precisava processar sua parte na meação e como não dispunha do maquinário necessário - esse pertencente ao senhor das terras -, ainda pagava a "conga" (geralmente dez por cento) por uso do equipamento.

O comércio era bastante dinâmico. Na zona rural predominava o sistema de "barracão", - bodegas montadas pelos donos dos engenhos (ao lado da casa da moenda) com a finalidade de vender alimento aos trabalhadores. Era um jeito engenhoso de fazer com que o dinheiro circulasse dentro dos limites da propriedade, e acabasse invariavelmente no bolso do patrão. O preço das mercadorias? - Ah! Esse era ditado pela vontade do dono das terras.

A cidade dispunha de várias lojas de tecido (confecção pronta não existia nem em pensamento) que atendiam plenamente as demandas da população: Paulo Coutinho, na Rua Norberto Baracuhy, atual casa dos filhos de João Dino; Senhor Abdias (vizinho ao casarão dos carros da Prefeitura) e Manoel Gonçalo (onde é o supermercado de Adriano Lopes), os dois últimos, na Cônego Teodomiro. Esses três comerciantes foram referências durante muitos anos em Pilões.

CULTURA e EDUCAÇÃO: 

O movimento cultural estava restrito à festa de fim de ano, que reunia toda a população no largo da Praça João Pessoa; ao Natal, comemorado no engenho Pinturas; aos bailes embalados por músicas da época, que aconteciam no club existente onde hoje fica o prédio da Telemar; ao carnaval, no estilo pernambucano, com pessoas fantasiadas e dançando um autêntico frevo; ao cinema, com exibição de filmes faroestes e musicais.

Na religião, a Igreja Católica era soberana e única no município, com suas missas às 10 horas dos domingos, em que a população comparecia em massa para ver um padre - de costas para os presentes - ditar a missa em Latim. O evento religioso na Igreja católica local caracterizava-se pelo fato de as famílias abastadas do município ocuparem as naves laterais da construção religiosa, sentadas em cadeiras personalizadas e dotadas de pequenos "travesseiros", nos quais os "nobres" fiéis podiam se ajoelhar sem correr o risco de machucarem as pernas.

A televisão (inaugurada no Brasil em 1950) ainda não chegara a Pilões. O rádio - acessível a poucos - era o único meio de informação disponível, além dos jornais impressos, provenientes da capital, que chegavam para alguns privilegiados, e mesmo assim com um substancial atraso.

A educação era composta do prédio da Escola Dom Santino Coutinho e suas quatro salas sempre lotadas, e do grupo de Pinturas, construído na época do governador Pedro Gondim. Escolas essas, que iam pouco além das primeiras palavras. Quem pretendesse alçar maiores vôos no conhecimento precisava se deslocar até às cidades de Serraria, Areia ou Guarabira.
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Foi no final dos anos cinquenta que Pilões adotou o futebol como principal esporte. O responsável por esse movimento foi o Prefeito José Lira Lins. Ele fundou o Pilões Futebol Club, melhorou o gramado do campo local e trouxe, até mesmo, o campeão paraibano (Botafogo de João Pessoa) para um amistoso com a equipe local, fato que teve repercussão estadual, especialmente pelo resultado da partida: um empate em um a um.

Antes, a população se dedicava a cavalhada (argolinha). Esporte caro, pois o competidor precisava possuir um cavalo e seus arreios. Era acessível apenas aos senhores de engenhos e a seus filhos e 'capangas' mais próximos. O futebol veio para mudar essa realidade, e o fez com uma velocidade impressionante, - antes de findada a década, todos os engenhos já dispunham de uma pequena várzea, que era usada como campo para a prática do futebol, numa universalização de oportunidades permitida apenas pelo caráter democrático desse esporte fantástico.

PAISAGEM (Rural e Urbana):

Na zona rural ainda predominava a presença das matas virgens, resquício da Mata Atlântica que cobriam todas as montanhas do município. A cana-de-açúcar e as demais culturas praticadas em Pilões ocupavam os vales e as encostas até meia-altura. Além do mais, a indústria do açúcar ainda não estava consolidada pela Usina Santa Maria, e os engenhos de rapadura e cachaça requeriam pouca matéria-prima.

Na zona urbana predominava um centro com casas de paredes externas em alvenaria e divisórias internas em taipa. Todas cobertas com telha. A Rua do Alto (atual Pe. Mateus) era formada por duas fileiras de casas de taipa e palha de palmeira. Só a casa onde morava o Senhor Lucas do Doce era de alvenaria e telha, sem contar, é claro, com a casa paroquial. No local onde hoje se encontra o Clube Pe. Mateus existia um pomar com mangueiras e outras fruteiras. A casa que hoje pertence a Leonel Belmino não tinha o primeiro andar e servia, na época, de residência a duas professoras e colaboradoras da Igreja Católica, as irmãs Bona e Isabel Moura. A primeira era quem impulsionava as teclas de um velho órgão (uma espécie de piano modesto) nas missas dominicais; a segunda cuidava da 'catequese' dos filhos de Pilões, preparando-os para a primeira comunhão e demais ritos da igreja.

A Rua Cônego Teodomiro (Juarez Távora, na época) era bem parecida com o que é hoje. Existiam umas poucas casas de palha no entorno da loja do senhor Manoel Gonçalo (atual supermercado de Adriano Lopes). Não existiam o Mercado Público, a lojinha de Pedrinho Cassimiro e a casa dos herdeiros de Zuzú Venâncio. A Rua terminava no que é hoje a casa de André Machado.

A Benjamim Sobrinho praticamente não existia como rua. Aquilo tudo era ocupado por uma lagoa natural que transbordava durante as chuvas. A área foi drenada aos poucos, permitindo a construção de várias casas durante as décadas seguintes.

A Hugo Cunha era um deserto empoeirado. Não tinha nem linhas de meio-fio. Contavam com cinco ou seis construções pertencentes ao engenho Várzea, de propriedade do senhor que empresta o nome à rua. Por ser praticamente uma reta desabitada e ter o leito arenoso e macio, essa rua era frequentemente utilizada para a prática da cavalhada: uma disputa entre os apaixonados pelo cordão vermelho (encarnado, como era dito à época) e os defensores do cordão azul. Esses eventos reuniam praticamente toda a população da cidade nas manhãs e tardes de domingos. O resultado do embate alimentava discussões acaloradas durante toda a semana e em todos os ambientes sociais do Município.

A Avenina José Filgueira de Menezes era uma vila de casas de taipa cobertas de palha. O mesmo aspecto emoldurava as ruas do Correio (atual Daniel Xavier); do cabaré (atual Luís Alconforado de Menezes). As rua Pe. Ibiapina e a atual Antônio Muniz (antes, rua da Cadeia) contavam com apenas duas e três casas, respectivamente.

Não existiam os conjuntos Petrônio Cunha, Amando Cunha, São José, Cristina Muniz, nem o Antônio Mariz. Os terrenos onde hoje estão situados esses complexos habitacionais eram cobertos com cana-de-açúcar ou com sisal. Outra Rua que não existia era a Cunha Filho, que se estende da esquina da casa do Senhor Amando Cunha até a casa do ex-prefeito Alberd Cunha. Na época essa Rua era uma trilha de animais e pedestres, cercada por um denso matagal composto basicamente de carrapateiras e urtiga branca. E mais, a Norberto Baracuhy (antiga Rua da Porteira) terminava no Grupo Dom Santino Coutinho. A partir dali, iniciava-se o engenho Boa Fé. A única construção existente era a casa onde hoje vive a família do senhor Jaime, mas essa já era parte do engenho. O lado direito da rua, onde hoje fica o posto de gasolina, era uma fileira de pés de eucalipto, ao longo dos quais funcionava uma manufatura de corda de sisal.

O nome "Rua da Porteira", como era conhecida a Norberto Baracuhy, especula-se, deriva do fato de ter funcionado naquela localidade, por muitos anos, uma cancela do Fisco estadual. Outra explicação seria a existência de uma porteira do próprio engenho Boa Fé.





Fonte: Informações de pessoas do povo, inclusive José Sales da Silva e Iolanda Pereira da Silva

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