terça-feira, 16 de dezembro de 2014

SALVO POR UM LANTERNINHA

Manhã  de uma segunda-feira ensolarada...

Depois de uma boa noite de sono acordei, tomei um belo banho, fiz a barba, vasculhei o guarda-roupas em busca do que vestir; encontrei apenas camisas de mangas compridas...

Escolhi a menos brega, mesmo assim fiquei parecido com o Faustão em uma tarde de domingo em que ele se supera no ridículo.

Já devidamente engomadinho, fui até a garagem do prédio, peguei o carro e parti em direção a Pilões.

Antes, por comodidade, parei no supermercado mais chique de Campina Grande para fazer algumas compras. Coisa pouca, alguns brides para uns poucos amigos. Aqueles mais próximos, mais presentes, mais íntimos. Lembrei de todos, claro, mas o mar não pra peixe, não dá para presentear todos quando tudo no Brasil parece estar pela hora da morte.

Depois de varrer todos os corredores do supermercado, dirigia-me eu para o caixa com o carrinho carregado com panetones, vinhos, queijos e frutas. Coisas de final de ano... Período em que perdemos os limites da prudência e extrapolamos nas compras. Afinal, temos doze meses pela frente para diluirmos o arrependimento. - A dor dói com mais humanidade...

- Hei! Psiu! ...Tá orgulhoso, é! - Palavras que me chegavam aos ouvidos sem que eu soubesse de onde ou de quem partiam.

Dei uma rápida olha ao redor e não vi ninguém. Foi quando de entre algumas gôndolas carregadas de chocolates e biscoitos finos surgiu uma bela morena, caminhando com passos firmes e largos em minha direção.

- Não fala mais com os amigos, não, é? ... Indagou uma aproveitável jovem de cabelos castanhos.

Sem deixar espaço para que eu fizesse qualquer pergunta, completou:

- Eu tô morando aqui pertinho. Minha mãe foi embora pra São Paulo... Não sabia, não? Eu agora moro sozinha.

- Mas, mas .... Tentei falar sem sucesso. Ela não parava de destilar frases mostrando intimidade. Muita intimidade!

- Liga pra mim! ...Não tem mais meu número?  - Tagarelou ela.

- Moça, você não está me confundindo com outra pessoa? - Foi a frase mais longa que consegui pronunciar.

- Não lembra, não? ...Eu trabalhei muitos anos no Bompreço. - E completou:
Anote aí meu número, vai!!!!

Mesmo desconsertado diante de tão inusitada situação, e depois de ter dado uma rápida olhada para o conjunto da obra, me submeti ao desejo da desconhecida e saquei do bolso da calça o meu surrado LANTERNINHA.

Aquela impetuosa e decidida moça arregalou os olhos, estendeu uma das mãos espalmada em minha direção, como se quisesse me empurrar, levou a outra até a boca, na tentativa de esconder um sorriso amarelo nos lábios, e disparou:

- Não, não... Deixa pra lá!

Foram suas últimas palavras, instantes antes de sumir tão misteriosamente quanto surgiu.

...Acho que ela não se agradou do meu falante!

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