quarta-feira, 9 de outubro de 2019

USO DOS PORQUÊS.

Uma dúvida que aflige muitos usuários da língua de Camões - o uso dos porquês.

Quando utilizar por que separado (com ou sem acento) ou porque em uma só palavra (com ou sem acento)?

No tempo de nossas avós, dizia-se que o "por que" (separado e sem acento) era utilizado em frases interrogativas; e o "porque" (uma só palavra e sem acento) era utilizado para respostas. Não é bem assim. Esse método não ajuda em nada na correta utilização dos PORQUÊS.

I - POR QUE (em duas palavras).

Você utiliza "por que" em 3 situações específicas:

1) Quando você puder substituir perfeitamente o "por que" por  "por qual".

Exemplo:

- Não houve como identificar por que caminho seguiu a procissão. (... por qual caminho...).

2) Quando você puder substituir perfeitamente o "por que" por "pelo qual".

Exemplo:

- Esse é o motivo por que não retornei sua ligação.  (... pelo qual não retornei...).

3) Quando ficar subentendida a presença das palavras (motivo ou razão) após o por que.

Exemplos:

- Eis por que a turma do primeiro ano B é considerada a melhor da escola.
 (Eis por que motivo/razão a turma ...)

- Não conseguiu o policial explicar por que não conteve o agressor daquela senhora.
 (Não conseguiu o policial explicar por que motivo/razão não...)

- Por que a secretaria da escola não publicava as notas dos alunos? Isso a diretoria não explicou.
 (Por que motivo/razão a secretaria da escola não...?)

Em resumo: você utiliza o "por que" separado quando puder substituir por "por qual", "pelo qual" ou ficar subentendida a presença da palavra motivo/razão em seguida ao "por que".

Quando não for possível fazer uso de uma dessas três situações descritas acima, você está diante da utilização do "porque" em uma só palavra ( porque = conjunção causal ou explicativa, com valor aproximado de "pois", "uma vez que".

II - POR QUÊ (separado e com acento).

"Por quê" (separado e com acento) é utilizado quando a palavra, além de se submeter a uma das três situações descritas acima (para "por que" separado), for seguida por qualquer sinal de pontuação (ponto, interrogação, exclamação, vírgula, dois pontos).

Exemplos:

- A diretoria da escola não publicou as notas dos alunos por quê?

- O professor não permitiu que o aluno deixasse a prova para reposição por quê, se essa possibilidade está prevista no regulamento da escola?

- O segurança não veio ao treinamento e não disse por quê.

- Não vou perdoá-lo e ele sabe por quê: brigamos feio da última vez.


III - PORQUE (em uma só palavra).

Em todos os demais casos em que  não for possível aplicar uma das 3 regras citadas para "por que".

Exemplos:

- Não fui ao trabalho porque acordei com febre (não fui ao trabalho pois acordei com febre).

O proprietário do taxi não fazia manutenção de seu veículo. Porque não lucrava o suficiente com o serviço? Não, porque era simplesmente irresponsável.

No primeiro exemplo, substituir a palavra porque por "por qual" ou "pelo qual" deixaria a frase estranha e sem sentido. Da mesma forma, não fica subentendida a presença da palavra (motivo/razão) em seguida.

Já no segundo exemplo, se fossemos recorrer às explicações do tempo de nossas vovozinhas, você seguramente, ao notar a presença do ponto de interrogação ao final, iria colocar por que (assim mesmo, separado) na primeira ocorrência da palavra. Note que em nenhuma das duas ocorrências da palavra no segundo exemplo é possível fazer uma daquelas três substituições sugeridas para o uso de "por que" (separado).


IV - PORQUÊ (junto e com acento).

Esse é o caso mais simples. Porquê (juto e acentuado) é quanto se tem a presença de um termo determinante imediatamente anterior à palavra, transformando-a em um substantivo. Pode ser qualquer determinante (o, os, aquele, vários, esse, este, nesse, um, algum, meu, seu, nosso, ...etc.).

Exemplos:

- É impossível entender os porquês das contradições humanas.

- Um de vocês poderia explicar o porquê de tanta agressividade?

- O porquê de não estar conversando é porque quero me concentrar no filme.

- Apresente-me apenas um porquê para que eu haja de outra forma.

- Nossos porquês só o tempo explica.

Note que em todos os exemplos a palavra "porquê" tem sentido de razão/motivo, o que poderia nos levar a aplicar a terceira regra do "por que" (separado e sem assento). Mas nesse caso a presença do determinante prevalece, transformando a palavra em um substantivo.





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