segunda-feira, 8 de junho de 2020

ANOS 60 - SÉCULO XX

Os anos conturbados vividos por Pilões na década de 50 forjaram uma sociedade politicamente ativa, mas dividida ao meio entre duas facções que já se digladiavam fazia décadas. Lideranças piloneses ligadas a partidos nacionais como UDN e PSD estavam sempre em lados opostos quando o assunto era o poder político. Foi assim durante todos os 56 anos em que Pilões figurou como um simples distrito da cidade de Serraria (1897 a 1953), situação que inclusive, durante todo o período de submissão, jamais foi totalmente digerida pelas famílias destas bandas, vez que o povoado sede era econômica e politicamente mais modesto do que o distrito de Pilões.

POLÍTICA:

Hermes do Nascimento Lira era o grande líder da UDN local, que tinha na pessoa do Desembargador Braz Baracuhy seu grande interlocutor junto ao Governo do Estado. Durante o tempo em que mandava no Governo Estadual um amigo de Braz, governava Pilões um seu aliado. Foi assim com o Senhor Amando, nomeado primeiro Prefeito em 1953 para governar até 1955; e com Hermes Lira, eleito mandatário maior do município em 1955 - após uma batalha de titãs contra o senhor José Lira Lins do PSD -, para governar até 1959.

A grande inversão política aconteceu em 1959, ano em que o PSD chegou ao governo de Pilões com a ajuda e proteção do governo estadual ligado a essa agremiação política. Foi eleito o Senhor José Lira Lins, proprietário do grande engenho Poções e genro do dono do engenho Pinturas de Cima. Zé Lins - como era popularmente conhecido - era uma figura carismática, de extraordinária sensibilidade política e grande prestígio junto às camadas mais pobres da população. Era, o que podemos chamar hoje, um populista nato.

Conta o ex-prefeito José Sales da Silva - na época auxiliar farmacêutico do então Prefeito Hermes Lira -, que certo dia, no calor da campanha, seu Hermes ficou sabendo de que José Lins estava a caminho da cidade em sua caminhonete amarela carregada de capangas. O Prefeito mandou chamar o chefe da polícia até seu estabelecimento farmacêutico, situado no largo da Praça João Pessoa, onde hoje funciona a lanchonete do Nino, entregando-lhe várias caixas de balas para que, juntamente com seus homens, que inclusive, o acompanhavam naquele momento, garantissem a ordem e a segurança da comunidade. O senhor José Lins chegou à cidade, transitou por algumas ruas do centro, fez a manobra na altura da Avenida Filgueira de Menezes - na época, duas filas de casas de palha e taipa, com muitos terrenos vazios - e, em seguida, tomou o destino de sua propriedade sem provocar nenhum incidente mais grave. José Lins só queria mexer com os nervos dos adversários e exibir sua força política e sua possibilidade de vitória iminente, o que acabou por acontecer naquele ano: José Lira Lins se tornou o terceiro Prefeito de Pilões, governando de 1960 a 1963.

Na administração, José Lins deu ênfase ao esporte. Notadamente ao futebol, que era a sua grande paixão depois das mulheres. Foi durante o governo dele que o município passou a construir e consolidar a fama de grande celeiro de bons jogadores que perdura até os dias de hoje. O estádio de futebol do município leva seu nome, tamanha sua importância para esse esporte no município e na região do brejo.

Um fato triste marcou o governo de José Lins - a morte do seu maior rival na política. O senhor Hermes Lira morreu em 1961, após sofrer um enfarto dentro do seu estabelecimento farmacêutico. Mais uma vez o senhor José Sales da Silva - funcionário de Hermes Lira à época - joga uma luz sobre este traumático acontecimento. Conta o ex-prefeito, que se encontrava no interior da farmácia na companhia do senhor Hermes, quando esse passou mal e deitou-se em uma rede mantida permanentemente armada em um dos cômodos do empreendimento. Deitou-se e pediu que lhe levasse uma cibalena, pois não estava se sentido bem. Zé Sales atendeu de pronto ao patrão e, em seguida, foi chamar a senhora Ana Augusta, esposa do enfermo, que se encontrava em sua residência. Exatamente a casa onde hoje reside o senhor Chico Barbeiro.

- Ah, Zé! ... Hermes sempre tem esse tipo de coisa. Logo ele fica bom, você vai ver! Disse Dona Ana Augusta, dando pouca importância ao fato. De tal forma que, só passados alguns minutos, foi ter com o marido, encontrando-o deitado à rede. O velho político a recebeu com uma pequena frase balbuciada tenuemente e com ligeira dificuldade: - Não se aflija! Disse isso, queixou-se de dores aos que estavam por perto, e morreu minutos depois.

A morte de Hermes Lira trouxe uma certa facilidade política ao então Prefeito Zé Lins, que concluiu seu mandato com pouca oposição. O senhor Amando Cunha, herdeiro do espólio político do grande líder e farmacêutico, não era detentor do mesmo carisma do falecido, e por isso mesmo não trazia maiores dificuldades ao chefe do PSD, que tratou logo em eleger como sucessor o senhor José Lira Lins Sobrinho, filho do usineiro Solon Lira Lins. Como o próprio nome do futuro prefeito sugere, ele era sobrinho do velho líder e prefeito Zé Lins.

Zezinho Sobrinho governou por cinco anos, de 1964 a 1968. Durante o primeiro ano de seu governo, Pilões foi arrasada por uma grande enchente do rio Araçagi-Mirim. As águas desceram o curimataú carregando tudo o que encontravam pela frente. A cheia de 6 de julho de 64 danificou seriamente os engenhos Cajazeira, Santo Antônio (ambos em Serraria), Poções, Boa Fé, Várzea e Engenho Pasta. Esse último ficou por terra. Até hoje são encontradas engrenagens enormes entaladas entre as rochas do leito do Araçagi-Mirim, na altura da cachoeira do Poço Escuro.

As ruas mais baixas da cidade ficaram debaixo d'água. A Norberto Baracuhy não se via a partir da casa do senhor Amando Cunha; A Cônego Teodomiro, a partir da loja de tecidos do senhor Abdias, era só água; A Benjamim Sobrinho (antiga rua da Várzea) - que na época resumia-se a poucas casas, especialmente o setor que hoje se chama Rua Hugo Cunha -, foi a que mais sofreu a força da enchente; a Avenida Filgueira de Menezes ficou totalmente alagada e com várias casas destruídas. Casas e mais casas por todo sítio urbano vieram ao chão. Pessoas se desesperavam com as perdas materiais. Outras se arriscavam naquelas águas turvas, tentando salvar pessoas, objetos e animais. Uma figura que ganhou notoriedade pela grande coragem e capacidade de nado foi o marceneiro "Mestre Benedito". - Ele nada feito um peixe! diziam muitos que o observavam salvando vidas e objetos.

Também, no governo de Zezinho Sobrinho, foi alargada e pavimentada a rua Benjamim Sobrinho (o corte da barreia que passa por trás da Escola Braz Baracuhy e ladeia as casas adjacentes, foi realizado na administração do Prefeito Zezinho Sobrinho); instalados postes de ferro com placas luminosas indicadoras de ruas nas principais esquinas da cidade. Enfim, fez uma administração moderna para os padrões da época. Foi também no governo de Zé Sobrinho que se deu a reabertura do antigo Colégio Comercial 15 de novembro, só que agora com o nomeado de Antonieta Corrêa de Menezes - nome da avó materna do Prefeito. Antes os estudantes de Pilões eram obrigados a se dirigir até Serraria caso desejassem ampliar seus conhecimentos. O Antonieta Correia de Menezes não era exatamente uma escola pública municipal. Os pais dos alunos contribuíam com parte das despesas, mas a maior parcela cabia à Prefeitura. (Essa escola foi estadualizada na gestão do ex-Prefeito Hermes Augusto de Castro, já nos anos 1990).

Outro fato que merece registro no período do Prefeito 'Zezinho' foi a pacificação política costurada por Zé Lins e o novo líder da UDN, Amando Cunha. Os dois caciques, reunidos em casa desse último, resolveram não partir para uma disputa aberta. Asseveraram que era mais inteligente e econômico estabelecer um rodízio no poder entre os dois grupos. Uma espécie da política do Café com Leite, que dominou a cena nacional nas primeiras décadas da República. Poderíamos chamar, no nosso caso de, de política do Açúcar com Rapadura, uma vez que de um lado encontravam-se os senhores de engenhos, ligados à produção da rapadura; do outro lado, os partidários do dono da Usina Santa Maria, grande produtor de açúcar. Esse acordo só foi possível após a morte do grande líder Hermes Lira. O velho farmacêutico jamais sentaria à mesa política com Zé Lins - assegura Zé Sales.

Dentro desse acordão foram eleitos Amando Cunha (1969 até 1972), para um segundo mandato; Doutor Pedro Bonifácio de Araújo (1973 a 1976), jovem agrônomo proveniente de Cacimba de Dentro, genro do senhor Zé Lins. O vice de Amando Cunha era o jovem Luís Serafim Soares, representante do PSD de Zé Lins na chapa. No acordo ficou estabelecido que o senhor Amando renunciaria após cumprir os dois primeiros anos do mandato, para que o seu vice assumisse. Como o Governador do Estado à época era muito amigo do Desembargador Braz Baracuhy - do grupo de Amamdo Cunha -, foi oferecido um emprego de Fiscal de Renda do Estado ao senhor Luís Serafim que de pronto aceitou, renunciando ao cargo de vice. O senhor Amando Cunha cumpriu integralmente o seu mandato, transferindo a gestão para o sucessor eleito em 1972 como candidato único (conforme o acordo de 1968), Dr. Pedro Bonifácio de Araújo.

ECONOMIA:
A década de 60 foi muito rica de acontecimentos políticos em Pilões. Foi também a década que consolidou a monocultura da cana-de-açúcar e presenciou a convivência conflituosa entre os velhos engenhos e a grande e moderna indústria do açúcar representada pela Usina Santa Maria - essa última estava num processo de extermínio de engenhos. A voracidade de suas moendas requeria mais e mais terras para plantio de matéria-prima. Muitos engenhos sucumbiram ainda naquela década. Os que resistiram, o fizeram por pouco tempo: a década que se seguiu cuidou dos seus destinos. Invariavelmente idênticos aos destinos dos seus irmãos de fogo morto.

Nesse movimento pacífico, porém economicamente truculento, a Santa Maria abocanhou vários engenhos tradicionais do município, dentre eles o fértil e avarzeado engenho Mercês. O proprietário, conhecido por Dão das Mercês, era uma figura baixa e atarracada. Era amputado de um dos membros inferiores por causa da diabete, e por isso mesmo, usava uma prótese de madeira que lhe emprestava uma silhueta ainda mais sinistra. Tinha esposa e uma filha, ambas ligeiramente descontroladas dos nervos. A filha era casada com um jovem ambicioso a que o velho Dão entregou o engenho Gogó, de sua propriedade. A ambição do genro não permitiu que ficasse satisfeito com apenas uma propriedade. Vendo a situação física do sogro, por um lado, e a loucura crônica da sogra, por outro, achou que seria fácil abocanhar a bela e produtiva Mercês. Para não perder a propriedade, seu Dão contratou dois homens e os incumbiu de matar o próprio genro. O fato foi consumado em uma curva da estrada de Areia, em 12 de outubro de 1963. O assassinato do jovem rapaz chamou a atenção das autoridades que, sem demora, identificaram o velho Dão como mandante do crime. Pressionado e temendo a prisão, o velho fazendeiro buscou refúgio em casa do Major Cunha Lima, da cidade de Areia (famoso por dar guarida a criminosos dos mais diversos matizes). De lá, foi levado até a cidade de Arara escondido dentro de uma carroça carregada de capim e cana-de-açúcar. Vendeu o engenho Mercês ao usineiro Solon Lins e, com o dinheiro do negócio, partiu para o Estado do Maranhão, onde faleceu. Nunca foi preso. (Essa narrativa eu ouvi do senhor Henrique, administrador do engenho no período da Usina Santa Maria e atual morador da Casa Grande).
A economia do município girava em torno da monocultura da cana-de-açúcar, matéria prima para a produção da rapadura, do açúcar e da cachaça. Pequenos agricultores produziam frutas e outros tipos de culturas. Mas eram produções pontuais, com pouca ou quase nenhuma influência significativa na economia. Fora da cana-de-açúcar, o produto que apresentava alguma importância econômica era o sisal. O sisal era cultivado em todos os engenhos de rapadura como forma de manter opção de ocupação para a massa trabalhadora durante a entressafra da cana-de-açúcar. Toda a fibra de sisal produzida no município era repassada para dois compradores locais: José Alves, do engenho Santa Cruz; e Otacílio Pimentel, que mantinha residência e depósito em uma velha casa que ocupava o terreno onde hoje se situa a casa que dá abrigo à Secretaria de Ação Social do Município (antiga residência do ex-Prefeito Alberd Cunha). O comércio de Pilões era muito ativo. O Município contava com três lojas de tecido, farmácia, bares e várias bodegas onde a população se abastecia. A feira livre existia, mas era insignificante. Funcionava no largo da Praça João Pessoa. Pilões não dispunha de posto de gasolina, nem de banco. Contava apenas com uma agência dos Correios e o escritório da Coletoria de Renda Estadual que funcionava na casa situada entre o que é hoje a residência de Dona Lú e o PSF da Praça João Pessoa.

CULTURA e EDUCAÇÃO:
A cultura seguiu o exemplo da década passada: Festa do Natal, em Pinturas de Cima; festa de fim de ano, na praça João Pessoa; bailes típicos, no clube que ficava onde hoje fica o prédio da Telemar; Coco de roda entoado por Palmeira, Cassimiro e Zé Genú; desfiles de 7 de setembro; São João, com fogueiras, comidas típicas e muitos fogos de artifício fabricados pelo velho fogueteiro José Muniz Júnior.

A festa de final de ano, erroneamente chamada de festa do padroeiro - na realidade o padroeiro de Pilões é o Sagrado Coração de Jesus, que se comemora no meio do ano -, atraia um grande número de pessoas da cidade e da zona rural. A Prefeitura instalava um pavilhão de madeira e palha de palmeira, onde uma banda tocada durante duas ou três noites seguidas. Ao redor do pavilhão, ocupando o restante da Praça João Pessoa, se instalava o parque de diversões. Roda gigante, balanços, canoas, carrocel com seus cavalos saltitantes, e muitos outros brinquedos compunham um cenário de sonhos e imaginações. Passeando por entre o pavilhão e os brinquedos, estavam os jovens com suas bengalas enfeitadas com fitas coloridas em forma de espirais habilmente imbricadas, emprestando um falso movimento de beleza singular. Raro era o jovem que não portava uma bengala na festa de final de ano. "Passear" na Roda Gigante era o sonho de todo jovem. Parar então, no lugar mais alto ponto da mesma, era o máximo para aquele jovem dos anos 60, principalmente quando ao lado estava a garota dos sonhos. Olhar para ela demandava muito esforço e coragem. Na maioria das vezes curtia-se apenas o pulsar mais forte do coração.

Havia apenas dois aparelhos de televisão em Pilões: um na residência do comerciante Paulo Coutinho, situada na Praça João Pessoa, justo na casa hoje pertencente ao Prefeito Coca; e outra na casa do Senhor Amando Cunha. Só no final da década é que o Prefeito Amando Cunha mandou instalar um aparelho no Clube Municipal, uma bela construção colonial, com a fachada revestida de azulejos portugueses, que foi demolida para dar lugar ao horroroso edifício da atual Telemar. O velho Clube Municipal também servia de palco para apresentações teatrais encenadas pelos jovens, assim como para exibição de filmes. (Hoje, a internet trava o sinal. Naquela época, o rolo de fita partia, levando a platéia a uma hilariante algazarra). Foi também nesse club e nessa televisão que muitos pilonenses - eu inclusive - assistimos a chegada da Apolo 11 à lua, com Neil Armstrong, Michael Collins e Edwin Aldrin Jr, em 20 de julho de 1969.

Na educação, foi reativado em 1968 o antigo Colégio 15 de Novembro, agora com o nome de Antônieta Corrêa de Menezes. Recebeu esse nome em homenagem a avó do então Prefeito José Lira Lins Sobrinho, responsável pela reativação do velho Colégio. Agora os estudantes de Pilões não precisavam mais, ir até Serraria para cursar o colegial (atual ensino Fundamental).

ESPORTE:
O futebol se consolidou como principal modalidade esportiva de Pilões. Equipes voltadas para a prática desse esporte se formavam por toda a zona rural. O Pilões, na zona urbana; e os times da Usina e do engenho Cantinhos eram contumazes rivais. As equipes de Cantinhos e da Usina sempre levaram a melhor quando o quesito era a violência em campo. Já o Pilões sobrava quando o assunto era placar do jogo. Ganhava quase todas para as equipes da zona rural.

A cavalhada não perdeu sua importância. Esse esporte dividia a população ao meio: de um lado, o cordão azul; do outro, o encarnado (vermelho). Grandes torneios eram disputados por toda a zona rural durante o ano. De tempos em tempos todos se reuniam na pista da Rua Hugo Cunha (na época essa rua não tinha nome, era parte da rua da várzea) para o que poderíamos classificar de final da cavalhada. A população toda acorria ao local. O resultado do embate era assunto para mais de semana.

PAISAGEM:


(Texto em construção e carente de revisão)

FONTES: José Sales da Silva e outros

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