sexta-feira, 13 de setembro de 2013

VERDADE OU MITO?

Ontem eu tive uma ligeira conversa com o meu amigo José Alves (mais conhecido por Monge Deda). Ele disse algo sobre o período dos Senhores de Engenhos que, se verdadeiro, terei que mudar profundamente a maneira de olhar para aquele momento da história recente do nosso Município.

Deda detalhou-me um momento triste que disse ter lhe sido relatado por uma pessoa que participou pessoalmente da agressão, na qualidade de executor da ordem do patrão. É um evento gravíssimo, que, confesso, nunca havia escutado de ninguém. Nem mesmo pessoas quase centenárias com quem tenho o hábito de conversar fizeram-me relato tão contundente e animalesco sobre os Senhores de Engenho. Os fatos descritos por Deda dão conta de que um desses Senhores - que ele não quis dizer quem - mandou que atirassem um morador na fornalha. Segundo o Monge, quem lhe contou isso foi a própria pessoa que por ordem do patrão executou o horrendo assassinato. 

A fornalha do engenho é o lugar onde se queima o bagaço da cana-de-açúcar para se cozinhar a garapa, transformando-a em melaço - matéria-prima do açúcar mascavo e da rapadura. É um ambiente que beira os mil graus centígrados - temperatura quase que suficiente para derreter o ferro. Jogar um homem dentro da fornalha é provocar-lhe uma morte com requintes medievais; é de uma estupidez sem limites. 

Essa cena obtusa não fazia parte da história de Pilões a que eu tive acesso. E olha que eu não perco oportunidade de arrancar de pessoas vividas informações que me permitam ter uma imagem o mais fiel possível daqueles tempos. Na verdade, eu mesmo - filho de um pequeno Senhor de Engenho - vivi intensamente parte daquela época, e presenciei fatos reprováveis pela visão de hoje, mas nada que se compare ao que me foi descrito por Deda Alves.

Outro dia, eu fui apresentado a um artigo (ou parte de uma tese, não sei ao certo...) de mestrado de uma professora da UFPB que relatava fatos semelhantes ao que Deda me descreveu. Dizia o artigo, falando das questões sociais no ambiente dos engenhos de Pilões, que era comum os Senhores de Engenhos passarem de trator por cima dos trabalhadores. E descrevia outras agressões igualmente grotescas praticadas pelos patrões contra seus moradores. Na visão daquela professora, os engenhos de Pilões eram verdadeiros feudos da Alta Idade Média: o proprietário era a um só tempo juiz e carrasco, doutrinador e intérprete das normas vigentes em seus territórios.

A doutora passou longe da verdade. O texto dela dá a impressão de que existe uma deliberada orquestração para demonizar o período que, admito, não foi nada bom para o trabalhador, mas que não chega nem perto do inferno desenhado por aquela peça fantasiosa. O mais grave é imaginar que aquela professora pode ter recebido dinheiro público (bolsa) para escrever aquelas mentiras. Mentiras que facilmente se tornam verdades entre jovens que não tiveram a oportunidade de beber direto na fonte. O artigo mentiroso estava nas mãos de dois jovens, que ficaram de olhos arregalados quando eu disse que nada do que estava ali descrito tinha acontecido de fato.  Pela reação dos dois, eles já acreditavam piamente na professora da UFPB.

Nenhum comentário:

Postar um comentário