Se a carne individual hoje apodrece,
Amanhã, como Cristo, reaparece
Na universalidade do carbono!"
Augusto dos Anjos nasceu Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos, em 20 de abril de 1884, no engenho Pau d’Arco, Município paraibano de Espírito Santo (na época, território de Sapé). Foi alfabetizado por seu pai, o Dr. Alexandre Rodrigues dos Anjos, debaixo do pé de Tamarindo existente nos fundos da Casa Grande do Engenho, onde nasceu e morava com os pais. Sua mãe, D. Córdula de Carvalho Rodrigues dos Anjos (Sinhá Mocinha), fidalga e enérgica, era a verdadeira chefe da família.
O mundo do jovem Augusto vivia uma grande agitação social, política e econômica naquele final de século. As revoluções na Europa, a queda da monarquia no Brasil, o avanço tecnológico e, principalmente, o fim da escravidão desagregaram o modelo de sociedade baseada na monocultura da cana-de-açúcar. A família do Poeta do Eu fazia parte do topo dessa pirâmide social em ruína e teve de suportar o seu desmantelamento. Esse caldo de acontecimentos forjou no jovem Augusto um ar de melancolia, dor e tristeza. Emoções que impregnaram a produção literária do jovem escritor, que se mantém única cem anos depois. É nesse ambiente conturbado e inseguro de final do Século XIX e início do Século XX que nasce a poesia de Augusto dos Anjos. Poesia que reflete as incertezas daquela sociedade rural do interior do Nordeste, e, particularmente, as incertezas do próprio autor com relação ao seu núcleo familiar. Nasce, de fato, um extraordinário inventário daquela sociedade; uma fotografia literária de época.
No último quarto do Século XIX, a criação artística brasileira sofria grande influência do Parnasianismo e do Simbolismo, duas escolas nascidas na França Pós-Revolucionária e Iluminista. Escolas, inclusive, que influenciaram o jovem escritor, mas não o aprisionaram: muitos identificam em Augusto, o prenúncio do novo movimento literário que tomaria conta da cultura brasileira do início do Século que se avizinhava: o Modernismo. Classificá-lo de Pré-Modernista é reconhecer-lhe a multiplicidade de estilos: um pouco do simbolismo e do parnasianismo na forma; um tanto do decadentismo no conteúdo, nas paixões e amarguras desconcertantes; mas, acima de tudo, um contestador social, denunciando a desumanização do próprio homem. É o que faz Augusto no poema “Vencedor”:
VENCEDOR
Toma as espadas rútilas, guerreiro,
E à rutilância das espadas, toma
A adaga de aço, o gládio de aço, e doma
Meu coração - estranho carniceiro!
Não podes?! Chama então presto o primeiro
E o mais possante gladiador de Roma.
E qual mais pronto, e qual mais presto assoma
Nenhum pôde domar o prisioneiro.
Meu coração triunfava nas arenas.
Veio depois um domador de hienas
E outro mais, e, por fim, veio um atleta,
Vieram todos, por fim; ao todo, uns cem...
E não pôde domá-lo enfim ninguém,
Que ninguém doma um coração de poeta!
Eu vejo no soneto “Vencedor” mais que uma reação às críticas proferidas por poetas do Simbolismo e Parnasianismo (especialmente de Olavo Bilac) ao seu trabalho, eu vejo uma denúncia da tragédia social que se abatia sobre as populações daquele recanto do Brasil. O poeta - identificando a miséria da natureza humana - na sua dor encontra força e coragem para continuar lutando: “Que ninguém doma um coração de poeta!”
Augusto dos Anjos costumava criar sua poesia recitando-a em voz alta, ao ar livre, para só depois colocá-la no papel, motivo pelo qual uma irmã sua achava que ele era doido.
Em 1912 o Poeta publicou o seu único livro: EU, grafado em letras vermelhas na capa. Após sua morte, um amigo reeditou sua obra acrescentando outras poesias que haviam ficado de fora da primeira edição e publicou com o nome de: Eu e Outras Poesias.
O Paraibano do Século morreu às 4 horas da madrugado do dia 12 de novembro de 1914, em Leopoldina – MG, aos 30 anos de idade, vitimado pela pneumonia. Deixou esposa, um casal de filhos ainda crianças e Eu, para a eternidade.
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