quarta-feira, 6 de junho de 2012

EU e Outras Poesias faz 100 anos




Augusto dos Anjos, um cometa de cauda infinita, o Paraibano do Século, o Poeta de minha infância!
Trinta anos. Apenas trinta anos foram necessários e suficientes para que aquele advogado que abraçou o magistério construísse uma obra que faz 100 anos com uma jovialidade impressionante.

'Melancolia! Estende-me a tua asa!
És a árvore em que devo reclinar-me...
Se algum dia o prazer vier procurar-me
Dize a este monstro que eu fugi de casa!’

Meu pai possuía um exemplar da obra "EU e Outras Poesias" que costumava ler para mim e meus irmãos. Prendiam-me a atenção, aqueles versos fortes, rudes, fúnebres, melancólicos. Todos eles abriam uma janela em que era possível ver aquela alma atormentada, assustada e triste, mas "Versos Íntimos" permeia meu imaginário até hoje.

Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!

Acostuma-te à lama que te espera!
O Homem que, nesta terra miserável,
Mora, entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.

Toma um fósforo. Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.

Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!

EU, não será jamais esquecido. Sua singularidade, seu espírito inovador, sua linguagem tecnico-científica que chocou a sociedade do início do século XX não encontra paralelo até hoje. Augusto dos Anjos - com sua obra solitária - é o poeta mais traduzido da língua portuguesa, depois de Camões.
Ao escrever sua obra o poeta paraibano de Espírito Santo não se filiou a nenhuma escola literária da época, transitou por várias delas: imprimiu o rigor formal e a riqueza gramatical comum ao parnaseanismo; visitou o simbolismo, muitas vezes, mitigando o significado das palavras em proveito do valor sonoro e musical das mesmas; deleitou-se com a morbidez, a dor e o pessimismo do decadentismo; anunciou o modernismo ao tratar do cotidiano social, de temas prosaicos e mórbidos, da morte, do nada. Dos Anjos brindou a humanidade com uma obra majestosa, incomum, eternamente impactante. E fez isso há 100 anos.

Ao terminar este sentido poema
Onde vazei a minha dor suprema
Tenho os olhos em lágrimas imersos...
Rola-me na cabeça o cérebro oco.
Por ventura, meu Deus, estarei louco?!
Daqui por diante não farei mais versos

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