- As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!- Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pôs almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minha'alma!...
- Disse - e ajoelhou-se, numa rogativa:
"Não mate a árvore, pai, para que eu viva!"
E quando a árvore, olhando a pátria serra,
Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!
Muito se especula sobre o poema “A Árvore da Serra”. Dizer que se trata de um poema ecológico não se sustenta, por não ser um tema da época; a inspiração, provavelmente, vem de uma tragédia familiar até hoje não totalmente revelada.
Augusto dos Anjos nasceu numa família conservadora, patriarcal. Acredita-se que ele, ainda jovem, se apaixonou e engravidou Francisca, filha do vaqueiro do engenho. A mãe de Augusto tinha a maldade como livro de cabeceira; o pai, um pacífico senhor de engenho dominado pela mulher. Estava armado o palco para um duplo e terrível assassinato: a mãe do Poeta mandou dar uma surra em Francisca, que veio a falecer dias depois, juntamente com o filho que trazia no ventre. Assim os críticos de Augusto dos Anjos explicam a total ausência da mãe na obra do autor. Já o pai é citado em muitos poemas.
SONETOS
I
A meu Pai morto
A meu Pai doente.
Para onde fores, Pai, para onde fores,
Irei também, trilhando as mesmas ruas...
Tu, para amenizar as dores tuas,
Eu, para amenizar as minhas dores!
Que coisa triste! O campo tão sem flores,
E eu tão sem crença e as árvores tão nuas
E tu, gemendo, e o horror de nossas duas
Mágoas crescendo e se fazendo horrores!
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