"Doada uma sesmaria de nove léguas que se inicia na cachoeira do Poço Escuro, no rio Araçagi-Mirim, onde esse faz barra com o Araçagi-Grande". Assim nasceu o município de Pilões, nos idos de 1716. Pelo menos esse é o mais antigo registro histórico de que se tem notícia.
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Obviamente naqueles idos, o território de Pilões era totalmente coberto pela rica Floresta Atlântica. Era, pois hoje só há vestígios do que seria aquele rico ecossistema que ocupava quase toda a borda leste do território brasileiro. Sou relativamente novo (faço meio século no próximo dia sete de setembro), mas guardo boas imagens do verde exuberante que na década de 60 ainda era possível contemplar no município, até mesmo no entorno da zona urbana de Pilões.
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Com o sumiço do verde desapareceram também o Canário-da-Terra e o Galo-da-Campina (Cardeal-do-Nordeste) que eram abundantes no nosso território.
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O verde começou a ser extirpado do nosso território ainda na época do povoamento, no século XVIII. Porém, foi em meados da década de setenta do século XX que o processo foi acelerado e as matas foram praticamente dizimadas. A degola se deu por força e obra do programa PRO-ÁLCOOL que estimulou a ampliação do plantio da cana-de-açúcar voltado à produção de álcool combustível. Buscando atender a fome das suas moendas, a Usina Santa Maria comprou ou arrendou todos os engenhos de Pilões e derrubou suas matas. No bojo desse crime ecológico aconteceu um crime histórico: os engenhos, com suas instalações e construções magníficas, foram demolidos ou abandonados à própria sorte. A maioria virou ruína, restando apenas, em alguns casos, a casa grande e vestígios do que seria a casa da moenda. Algumas chaminés desafiam o tempo, plantadas no meio do nada, como testemunha de um passado desumano, mas, glorioso.
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O INCRA está completando a tarefa de apagar o que restou do passado histórico do município. Os engenhos que foram desapropriados para reforma agrária estão perdendo seu casario e mudando de nome. Nessa trilha insana, Cantinhos e Mercês viraram REDENÇÃO; Labirinto e São Bento atendem pelo nome de SANTA MARIA; e mais grotesco ainda: Porções (engenho que frequenta todos os passos da história de Pilões) virou FLORESTAN FERNANDES. Duvido que os moradores de Porções sabam quem vem a ser Florestan Fernandes!?...Duvido!
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Com o fechamento da Usina Santa Maria o verde vem resurgindo nas montanhas piloneses, só os Canários-da-terra e Galos-da-Campina não aparecem para entoarem seus belos cantos pelas nossas campinas regeneradas. Quanto ao casario? ... Ah! Esse parece incomodar o pessoal do INCRA, que trabalha pelo seu sepultamento. Questão de ressentimento com o passado senhorial.
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